SEGUNDA PARTE Minas Indígena - Instituto ANTROPOS
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<strong>Minas</strong> <strong>Indígena</strong> 113<br />
Toré é uma expressão de contentamento, um folguedo a que se entregam<br />
freqüentemente "se a vida não estiver muito difícil pela falta de chuva". Dança-se,<br />
de preferência, nos fins de semana "sem hora para terminar, varando noite e dia"<br />
em certas ocasiões.<br />
O local da dança é um terreiro onde os participantes, aos pares, formam um grupo<br />
compacto em formação circular que gira em torno do centro. Cada par, ao<br />
acompanhar o movimento do grupo, gira também em torno de si próprio e o terreiro<br />
é pisado furiosamente por todos marcando o ritmo da dança. Além do baque surdo<br />
dos pés, o ritmo é marcado por maracás (elaborados com pequenas cabaças) e pelas<br />
vozes em coro dos dançarinos. Os versos, de difícil compreensão, são "puxados"<br />
pelo guia do grupo e cantados em português mesclado com expressões do dialeto da<br />
tribo.<br />
6.1.4.1.2. MENINO NO RANCHO<br />
Este é o ritual de iniciação dos meninos do grupo nos segredos da sua religiosidade<br />
tradicional, quando os mesmos atingem cerca de doze anos de idade. A cerimônia tem<br />
lugar num rancho armado no centro da aldeia, especificamente para este fim, sendo o<br />
menino – ou meninos – pintado de branco e vestido de palha de croá. Dois grupos são<br />
formados para disputar a criança, um pelos praiás – protetores mágicos, que dançam<br />
vestindo suas indumentárias – e o outro pelos padrinhos do menino – que dançam pintados.<br />
Trava-se uma luta simbólica terminando sempre com a vitória dos praiás que introduzem o<br />
menino no poró, onde passa uma temporada servindo ao seu praiá, aprendendo da cultura,<br />
e quando também recebem o seu próprio praiá.. Como é um ritual tipicamente masculino,<br />
a única participação das mulheres é na cantoria, enquanto os homens lutam entre si. Mas<br />
devemos ressaltar aqui, que apesar das mulheres não participarem da dança ou disputa em<br />
si, sua participação é de fundamental importância pois sem as cantorias não se pode<br />
realizar o ritual. Uma informante de Torres (internet), da aldeia Brejo dos Padres, fez a<br />
seguinte explicação deste ritual:<br />
(...) é dedicada a Mãe D'água que ameaça roubar a criança. Temendo perder a<br />
criança, a mãe promove a festa para apaziguar a Mãe D'água. Os Praiás, que são<br />
em número de vinte e dois, são os padrinhos secretos da criança e escondem a sua<br />
identidade com longas vestes, cobrindo totalmente os seus corpos (...) No final, um<br />
banquete é servido a todos pela mãe da criança.<br />
Na pesquisa de campo não conseguimos constatar se este é realmente o fundo<br />
cosmológico do ritual 91 , pois não vimos nenhuma referência à Mãe D’Água. Contudo, não<br />
podemos descartar a possibilidade deste relato ser verdadeiro.<br />
6.1.4.1.3. DANÇA DO CANSANÇÃO<br />
91 A Dona Benvina é bastante resistente em dar informações sobre suas tradições e cultura, e como ela ocupa<br />
posição de respeito no grupo, tivemos dificuldade em colher maiores informações.