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SEGUNDA PARTE Minas Indígena - Instituto ANTROPOS

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<strong>Minas</strong> <strong>Indígena</strong><br />

tutelados por policiais, somada à tradicional belicosidade deste grupo, desde os tempos dos<br />

primeiros contatos, marcou a lembrança regional de forma quase indelével. A figura dos<br />

bugres é sempre relacionada a delinqüentes e criminosos. Neste sentido, o relato de Mattos<br />

(1996.190) é muito significativo:<br />

Como forma de elogio por sua conduta julgada “honesta e trabalhadora”, os<br />

conhecidos de um índio que vende peixe na cidade de Conselheiro Pena afirmamnos<br />

que “ele não é índio legitimo, mas misturado”, pois apenas desta forma<br />

poderiam justificar a predisposição relativamente pacífica para o contato com um<br />

“bugre” – inimigo potencial.<br />

Por outro lado, há da mesma forma ou talvez ainda mais forte, um sentimento de<br />

discriminação dos Krenak em relação à população regional. Eles se consideram superiores<br />

aos kraí e são profundamente etnocêntricos, sendo esta uma das razões da sua forte<br />

resistência cultural. Este etnocentrismo é fundamentado na cosmologia Krenak, tendo suas<br />

raízes nas restrições que os marét e nanitiong fazem em relação à presença de kraí no<br />

território indígena e principalmente nos abrigos rupestres, considerados morada destas<br />

entidades. A simples presença de um kraí num lugar sagrado é suficiente para desencantá-<br />

lo, não pelo seu poder mas por sua impureza que profana o sagrado (Mattos, 1996.164).<br />

Desta forma, os Krenak têm muita resistência à presença de não-índios no seu<br />

território. Em nossa pesquisa de campo constatamos que neste sentido eles são realmente<br />

os menos receptivos. Se o kraí é impuro e profanador, logo o burúm é uma raça superior,<br />

ainda que massacrada e perseguida. Este sentimento de superioridade, somado à vívida<br />

memória do processo de massacre e exploração, também por parte dos impuros kraí, gera<br />

consequentemente um arraigado sentimento de discriminação e rejeição a tudo que vem de<br />

fora. É por isto que as jovens Krenak que saíram da área por terem se casado com kraí,<br />

mesmo mantendo fortes laços de ligação com a família, não são mais consideradas parte<br />

efetiva da comunidade, principalmente no grupo de Laurita Félix.<br />

Em parte isto explica também a rejeição a antropólogos, lingüistas, missionários,<br />

bem como aos órgãos governamentais, como a própria FUNAI e FUNASA. O chefe de<br />

Posto da FUNAI é indígena – Nadiu – e os contatos com o governo e autoridades são feitos<br />

diretamente através do Núcleo de Cultura <strong>Indígena</strong>, estabelecido no município de Nova<br />

Lima, região metropolitana de Belo Horizonte, fundado e presidido por Ailton Krenak, um<br />

dos líderes indígenas do Estado com maior capacidade de articulação. Vale considerar, que<br />

resistência e rejeição aos órgãos governamentais remonta também, e talvez principalmente,<br />

ao fato do SPI e FUNAI terem sido por muito tempo órgãos de opressão aos Krenak,<br />

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