SEGUNDA PARTE Minas Indígena - Instituto ANTROPOS
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<strong>Minas</strong> <strong>Indígena</strong> 139<br />
(...) foi o “governo”, o Capitão Inácio de Oliveira Campo. Ele matô, robô a terra,<br />
robô a língua, robô a religião, robô dança (...) aí trocô o nome, ninguém falava<br />
Kaxixó.<br />
Entretanto, assim como apenas camuflaram sua identidade étnica, o mesmo fizeram<br />
com sua religiosidade, inclusive praticando seus rituais às escondidas, até na década de<br />
1970 quando segundo o senhor Djalma “a religião católica foi instituída no grupo (...)<br />
pelos fazendeiros, com o objetivo de ‘acabar com a lei dos índios’” (Caldeira, 1999.44),<br />
obrigando-os a aprender a rezar:<br />
Então, tá tendo vinte e quatro anos que eles deu a idéia de acabar com as leis do<br />
índio e então levou nós para Divinópolis. Lá ensina a rezar, ensina a lei do branco.<br />
Lá nós foi estudar o quê que é lei de rei, desde da América do Norte, tudo.<br />
Aqui ele se refere ao curso de formação para Ministro de Eucaristia e Dirigentes de<br />
Culto, da CNBB – Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, que ele e seu irmão<br />
Zezinho realizaram na década de 1980 na cidade de Divinópolis, oferecido em vinte e<br />
cinco módulos. Durante três anos eles foram mensalmente a Divinópolis, quando também<br />
tiveram acesso a leituras sobre a história do Brasil, entre outros temas. Parte do<br />
conhecimento histórico do senhor Djalma foi adquirido ali. Caldeira (1999.44) tece<br />
comentários ainda sobre as suas rezas num terreiro do Capão do Zezinho, chamado<br />
Cruzeiro:<br />
Os Kaxixó, durante o mês de maio, vão todas as noites ao Cruzeiro rezar. Levam a<br />
imagem de Nossa Senhora Aparecida, uma vela e, ao iniciar a reza, estouram fogos,<br />
acendendo uma fogueira. Cada noite um deles é o responsável pela leitura do<br />
evangelho. Ao final de cada reza, os Kaxixó que estão em outras localidades –<br />
como no estado de Goiás ou em Belo Horizonte – são lembrados. Pede-se proteção<br />
e saúde para cada família Kaxixó.<br />
Outra época tradicional é o dia de São Francisco de Assis (04/10), sendo a principal<br />
festa comemorativa do grupo. Para esta vêm pessoas de toda a região e até parentes de<br />
cidades distantes. Além das rezas, há comes e bebes com fartura, barraquinhas, e muito<br />
forró, que é o estilo musical mais popular da região.<br />
Entretanto, o grupo de dona Antonieta é bastante resistente ao catolicismo<br />
apresentando fortes sinais de sincretismo. Ao que parece, eles são descendentes diretos dos<br />
“jagunços” da Dona Joaquina, que por não serem batizados eram considerados pagãos, sem<br />
religião. Logo, praticam a invocação de espíritos em rituais próprios que eles chamam de<br />
“lei do índio” ou ainda “língua de Angüera”. Destes destaca-se o jovem Jerry, ex-cacique,<br />
neto da dona Antonieta, que insiste em praticar rituais mediúnicos, onde há manifestação