SEGUNDA PARTE Minas Indígena - Instituto ANTROPOS
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<strong>Minas</strong> <strong>Indígena</strong><br />
Estes abrigos eram locais estratégicos para refúgio em caso de conflitos armados,<br />
pois além da sua difícil acessibilidade é nos abrigos que os marét habitam, sendo as<br />
pinturas, sinais deixados por eles. Quando os Krenak visitam estes abrigos, costumam<br />
deixar oferendas às entidades que ali habitam. Eles se sentem guardiões dos abrigos, pois<br />
crêem que a presença de kraí tira o encanto dos mesmos.<br />
4.1.5.3.2. KIEME-BURÚM 67 – “CASA DE RELIGIÃO”<br />
A casa de religião é onde realizam suas danças cerimoniais, sendo um simples e<br />
pequeno rancho improvisado. Desta forma, o seu encanto ou dimensão sagrada possui<br />
caráter temporário. Na nossa pesquisa de campo observamos uma kieme-burúm, nas<br />
proximidades da residência de Laurita Félix, abandonada no meio do mato.<br />
4.1.6. ESTUDO DE PODER SOCIAL<br />
É interessante a questão de poder social entre os Krenak, pois apesar de se tratar de<br />
um grupo que luta unido pela sua sobrevivência e liberdade, se dividem internamente em<br />
grupos rivais. A luta pelo poder social é facilmente perceptível já nos primeiros contatos.<br />
Isto é comum em grupos exogâmicos, o que sugere a possibilidade de em tempos passados<br />
terem adotado este mecanismo social.<br />
4.1.6.1. CACIQUE<br />
Desde o retorno dos Krenak da Fazenda Guarani em 1980, o cacique tem sido o<br />
índio José Alfredo de Oliveira, apelidado Him na língua Krenak, ou Nego, em português,<br />
por possuir muitos traços negros na sua fisionomia. Sob o cacique recai a responsabilidade<br />
da representação externa do povo, bem como da liderança interna. Entretanto, Him tem<br />
desempenhado apenas esta primeira função, pois internamente não detêm nenhuma<br />
autoridade sobre os outros dois grupos que lhe são rivais. Na prática, sua permanência no<br />
cacicado é uma questão emérita, pois foi ele quem liderou o retorno da Fazenda Guarani,<br />
apesar da iniciativa ter sido de Laurita Félix. Outro fato, é que apesar de na prática<br />
mulheres como Laurita Félix exercerem forte liderança, as mesmas não podem representar<br />
o grupo publicamente. Esta última está preparando seu filho Rondon para se tornar um<br />
cacique, o qual já até concorreu com Him numa eleição. Este “treinamento” tem respaldo<br />
histórico, pois segundo Faria (1992.26) “a preparação do cacique para o exercício de suas<br />
atividades era promovida por sua mãe. Esta mulher tinha o poder decisivo do grupo”.<br />
67 Literalmente “casa de índio”.<br />
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