SEGUNDA PARTE Minas Indígena - Instituto ANTROPOS
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2.2. EFEITOS POSITIVOS<br />
<strong>Minas</strong> <strong>Indígena</strong> 166<br />
Reafirmação Lingüística – Reduzidos a um pequeno grupo, sofrendo forte pressão<br />
e influência externa, inclusive com não-indígenas vivendo com eles na aldeia, a tendência<br />
era perder totalmente a sua língua materna como aconteceu com quase todos os grupos<br />
indígenas do leste do país. Mas com o estudo lingüístico que foi realizado, bem como com<br />
o processo de tradução demandando informantes e revisores, a língua foi valorizada e o<br />
povo incentivado a preservá-la. Quando da distribuição do Novo Testamento foi feita uma<br />
campanha de alfabetização, numa parceira da SIL, FUNAI e UFJF – Universidade Federal<br />
de Juiz de Fora (1980-1984), tendo como um dos principais objetivos a preservação da<br />
língua materna (Antunes, 1999.v). Foi criado o curso de alfabetização bilíngüe, oferecido a<br />
vinte a quatro líderes Maxakali, que na sua maioria tornaram-se professores efetivos de<br />
suas aldeias, quando implantada a Escola <strong>Indígena</strong> Diferenciada em 1996. O povo passou a<br />
se orgulhar em falar uma língua própria, pois agora até a sociedade externa os admirava<br />
por isto, enquanto antes, era motivo de depreciação. Ao serem argüidos acerca dos<br />
benefícios desta abordagem, os próprios Maxakali não hesitam em apontar a questão<br />
lingüística como o principal legado dos missionários 138 .<br />
Preservação Étno-populacional – Em 1959 eram apenas cento e noventa e sete<br />
indivíduos, em acelerado processo de extinção, hoje são cerca de mil pessoas em acelerado<br />
processo de crescimento populacional. Vale lembrar que na década de 1960 eles estiveram<br />
totalmente abandonados pelos órgãos governamentais, pois o SPI estava em processo final<br />
de desestruturação (cf. 5.1. 1ª Parte). A FUNAI só veio dar uma maior assistência na<br />
década de 1970 (cf. 5.3. 1ª Parte) e as várias ONG’s e outros órgãos governamentais na<br />
década de 1980 (cf. 5.4.3. 1ª Parte). Sendo assim, a preservação étnica dos Maxakali deve-<br />
se em grande parte à atuação dos missionários, exatamente neste momento histórico de<br />
tamanha carência. A assistência de saúde em muito contribuiu para a repopulação,<br />
principalmente evitando a morte dos recém-nascidos, e a simples presença dos<br />
missionários na aldeia serviu de inibição à ação de fazendeiros e outros opressores<br />
externos sobre o povo.<br />
Aplicação Cultural do Termo Topa (Deus) – Até então, o termo Topa estava<br />
adormecido na sua cosmologia (cf. 3.1.4.2. 2ª Parte). Eles sempre creram na existência de<br />
Topa como criador de todas as coisas, mas não criam na possibilidade de reestabelecer<br />
relacionamento com Ele algum dia. Isto foi reavivado na memória cultural do povo,<br />
138 Nas entrevistas com Zezinho Maxakali (08/02/02) e Maria Diva (07/02/02).