SEGUNDA PARTE Minas Indígena - Instituto ANTROPOS
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<strong>Minas</strong> <strong>Indígena</strong> 167<br />
certamente trazendo expectativas e esperanças. Prova disto é o clamor que eles levantaram<br />
a Topa, em 1971, pedindo libertação dos espíritos opressores. Infelizmente, ao que parece<br />
faltou uma resposta a esta expectativa. O próprio uso do nome tribal para Deus foi por<br />
demais positivo, pois aponta uma valorização não apenas da língua mas também da<br />
cosmologia. Esta escolha foi muito feliz, pois a descrição que eles fazem de Topa confere<br />
com os atributos bíblicos de Deus.<br />
Reconhecimento do Trabalho Missionário na Ótica Lingüista-antropológica –<br />
Dado à qualidade e seriedade do trabalho realizado, mesmo os indigenistas, lingüistas e<br />
antropólogos mais críticos tem sido constrangidos a reconhecer a contribuição destes<br />
missionários ao povo Maxakali. Alguns têm omitido o trabalho deles, por não encontrar<br />
argumentos sólidos para crítica. Isto é positivo pois contribui para a mudança da visão dos<br />
profissionais das ciências humanas em relação aos missionários.<br />
2.3. EFEITOS NEGATIVOS<br />
Não resta dúvida de que o trabalho em foco alcançou com sucesso seu objetivo, que<br />
sempre foi a tradução do Novo Testamento. Mas analisando a abordagem como um todo,<br />
talvez possamos apontar alguns pontos negativos da mesma, não por deficiência dos<br />
missionários, mas pelas circunstâncias em si.<br />
Impossibilidade de Leitura – Como já citado, o próprio Harold menciona que<br />
“somente uma meia dúzia deles aprendeu a ler e escrever”, ou seja, foi traduzido um Novo<br />
Testamento para não leitores. Infelizmente isto não é novidade, pois segundo Lidório<br />
(2001a.19), ainda hoje apenas trinta por cento dos missionários tradutores conseguem<br />
traduzir e alfabetizar ao mesmo tempo, ou seja, não sendo realizado trabalho em equipe as<br />
possibilidades de traduzir bíblias para não leitores são grandes. Com a campanha de<br />
alfabetização realizada na entrega do Novo Testamento, houve realmente uma valorização<br />
da língua por parte do povo, entretanto, neste processo houve também um intervalo de<br />
aproximadamente dez anos desde a saída do casal Popovich até a chegada de novos<br />
missionários. Neste período, uma forte influência de antropólogos, lingüistas e pedagogos<br />
foi exercida sobre todo o povo, levando-os a tratar com descaso o Novo Testamento. Se<br />
um número expressivo de indígenas tivesse sido alfabetizado durante o processo de<br />
tradução, poderia até ter sido criado núcleos de alfabetização nos vários agrupamentos