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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

comum tanto à discussão clínica do caso do pequeno Hans quanto à do caso de Joyce,<br />

ainda que eles tenham posições, estruturas diferentes, denotando, de saída, uma<br />

transversalidade entre os dois tempos do ensino lacaniano. Mas será que Lacan concebe<br />

essa carência da mesma maneira?<br />

Veremos também que o sintoma, em ambos os casos, aparece como o que repara um<br />

erro. Sabemos, porém, que a concepção de sinthoma, introduzida no Séminaire XXIII,<br />

altera radicalmente a noção de sintoma presente, até então, no texto lacaniano. Quais<br />

seriam, assim, as aproximações e os distanciamentos que esses dois casos nos permitem<br />

extrair quanto à noção de suplência?<br />

2.4.2 A carência do pai de Hans e a ‘suplência’ metafórica na fobia<br />

Todo o ‘tratamento’ 52 de Hans acontece em torno da figura paterna e sua insuficiência<br />

em operar a castração. Hans solicita o pai exatamente nesse ponto e ele não comparece.<br />

Lacan pinça a carência paterna em Hans e no-la apresenta.<br />

“Digamos que, naquele momento [fantasia com desaparafusamento], o pequeno Hans<br />

explique a seu pai: - Enfie isso nela, de uma vez, ali onde é preciso. É isso mesmo que está<br />

em questão na relação do pequeno Hans com seu pai. Temos, o tempo todo, a noção dessa<br />

carência e do esforço feito pelo pequeno Hans para restituir, não digo uma situação normal<br />

[...] – mas uma situação estruturada” (LACAN, 1956-57/1995, p. 371).<br />

Qual a carência do pai aqui? O pai de Hans, enquanto pai imaginário, enquanto<br />

revestido de horror, afasta a possibilidade da castração ao invés de fazê-la operar. Ele<br />

quer parecer bom para o filho. Esse é o ponto que irá exigir da parte do menino uma<br />

solução. Interessante notar que o pai simbólico, o Nome-do-Pai, opera na figura do<br />

professor Freud que, como o bom Deus, tudo sabe. “Isso lhe é muito útil, mas sem<br />

suprir, de modo algum, a carência do pai imaginário, do pai realmente castrador. Todo<br />

o problema reside aí. Trata-se de que o pequeno Hans encontre uma suplência para<br />

este pai que se obstina em não querer castrá-lo” (LACAN, 1956-57/1995, p. 375).<br />

O que se coloca como questão é como o pequeno Hans poderá suportar seu pênis real,<br />

na medida em que este não é ameaçado. Este é o fundamento de sua angústia fóbica. O<br />

desejo de que o pai seja ferido evoca uma circuncisão mítica, colocando em xeque a<br />

confrontação do pai como homem com sua mãe, e também veicula a indagação sobre o<br />

52 O pequeno Hans era filho de um adepto da teoria freudiana que levava suas anotações para o professor<br />

Freud. Este, então, explicava o que se passava com Hans e seu pai fazia intervenções com o menino a<br />

partir dessas explicações. Mas tudo se passava no nível da educação doméstica, mais do que num<br />

contexto clínico.<br />

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