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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

prever qual será o resultado da próxima jogada, cara ou coroa, ainda que se possa<br />

deduzir, após inúmeras jogadas, que a probabilidade de cada uma delas aparecer será de<br />

50%. Nesse nível, ele trabalha com o que pode ser pensado como a matéria real, o que é<br />

da ordem do dado da experiência, o que tem valor bruto. Num segundo momento, essa<br />

casualidade pode ganhar um reagrupamento regido por reciprocidade, tal qual o<br />

funcionamento imaginário, especular, pareado. Uma lógica começa a ser esboçada. E,<br />

no terceiro nível, esses reagrupamentos por duplas ganham leis de organização,<br />

combinatórias possíveis e outras agora impossíveis, uma verdadeira sintaxe, sendo os<br />

agrupamentos do segundo nível reorganizados a partir dessas leis que já introduzem<br />

uma lógica simbólica. Há, como se pode deduzir, uma prevalência do simbólico que, a<br />

posteriori, organiza a leitura das dimensões imaginária e real. Busca-se a construção de<br />

um sentido para o real, o estabelecimento de regras para se interpretar o aleatório<br />

(BASTOS, 1998).<br />

Foi com base nessa perspectiva estruturalista que Lacan empreendeu sua releitura de<br />

Freud nesse primeiro tempo de seu ensino. Nela, o sujeito, diferentemente da<br />

abordagem fenomenológica, só conhece os dados mediatizados pela estrutura, cuja<br />

alteridade é dada pela noção de Outro. A percepção seria organizada previamente pela<br />

estrutura. O perceptível faria sistemas e o simbólico dominaria o perceptível da<br />

realidade. “A dinâmica no estruturalismo é reduzida à permutação de elementos em<br />

lugares invariáveis, quer dizer que há uma estática dos lugares explorada por Lacan”<br />

(MILLER, 2003b, p. 21).<br />

O avanço do ensino lacaniano implicará numa reinterpretação desse determinismo.<br />

Lacan questionará o real da estrutura ao discutir sua dimensão de arbitrariedade. O que<br />

a Antropologia Social estruturalista de Lévi-Strauss colocou em relevo foi o<br />

relativismo, a perspectiva de que o real poderia ser estruturado de maneiras diversas, e,<br />

só então, ganhar uma estrutura irredutível. Donde se extrai que qualquer estrutura é,<br />

antes de tudo, uma construção de leis que regem a realidade factual. Mas, para Lacan,<br />

subjaz a esse sistema de leis um real de dados imediatos que não caberia buscar decifrar.<br />

Aliás, que restaria como inacessível, indecifrável. Haveria uma espécie de matéria bruta<br />

dos fatos, sem nenhuma estrutura lógica anterior a esse sistema de ordenação estrutural.<br />

Sobre ela se construiria a elucubração do sentido, um saber. Isso teria conduzido Lacan<br />

a uma nova fenomenologia, a ordenar um real fora do sentido, prévio àquele que a<br />

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