Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />
No texto “Observação sobre o Relatório de Daniel Lagache”, Lacan (1960/1998) esboça<br />
a ruptura que estava sendo gestada no período e que aparecerá com a topologia do<br />
objeto a 76 . Ele inicia uma série de retificações dentre as quais a que promove a<br />
diferenciação entre estrutura e forma. “E a questão é justamente abrir o pensamento<br />
para uma topologia, exigida pela simples estrutura” (LACAN, 1960/1998, p. 655),<br />
entendida aqui enquanto estrutura de linguagem e seus efeitos combinatórios, mas já<br />
marcada pela presença do objeto a.<br />
Apoiada no esquema óptico, essa topologia inclui uma dimensão inalcançável,<br />
irrepresentável, fora do plano projetivo, que Lacan chama de a, objeto a ou objeto real.<br />
No esquema óptico, oriundo do campo da Física, Lacan localiza a projeção invertida do<br />
objeto irrepresentável fora dos planos. Se o espelho trata da imagem virtual de um<br />
objeto real, o olho, por seu turno, trata da imagem real de uma imagem virtual,<br />
desdobrando a função óptica reflexiva e excluindo o objeto real do campo de apreensão.<br />
A imagem nasce como recobrimento desse objeto inapreensível, que, por isso também,<br />
é causa do desejo 77 .<br />
O objeto a, aí apresentado, aparecerá referido à psicose na série de textos que Lacan<br />
escreve nesse período. No Seminário 11, em especial, Lacan (1964/1998) irá articular a<br />
constituição do sujeito a partir da falta instalada no campo do Outro através das<br />
operações de alienação (reunião) e separação (interseção). Essa operação permite situar<br />
a queda do objeto a com a experiência da castração e a instalação da tela da fantasia<br />
($a), como proteção ao Real que aí se revela, distinguindo dois termos heterônomos<br />
($ e objeto a) que, nela, se relacionam, como já discutimos.<br />
Nesse período, Lacan irá discutir a psicose de maneira pontual, sobretudo referida à<br />
criança. Irá, então, articular a psicose infantil à fantasia da mãe, e não mais à<br />
descontinuidade do significante. “A criança débil toma o lugar [...] desse S, em relação<br />
a esse algo a que a mãe a reduz a não ser mais que o suporte de seu desejo num termo<br />
obscuro, que se introduz na educação do débil a dimensão do psicótico” (LACAN,<br />
1964/1998, p. 225). Ou seja, quando a criança realiza a presença do objeto a na fantasia<br />
materna fica numa psicose. Em outro escrito do período, duas cartas escritas a Jenny<br />
76 Observem que toda a discussão acerca da Banda de Moebius e do objeto a no Esquema R e no<br />
Esquema I decorre de uma nota de rodapé acrescentada em 1966 ao texto.<br />
77 Além de utilizar o esquema óptico para tratar da topologia do objeto a, Lacan a discute, sobretudo, a<br />
partir de figuras da topologia das superfícies. Porém, visto que aqui pretendemos apenas circunscrever o<br />
surgimento do objeto a para tratar da psicose nos textos desse período, não entraremos na discussão dessa<br />
topologia.<br />
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