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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

gozo. Que os tipos clínicos 26 decorrem da estrutura, isso é certo, como também é certo<br />

que o que decorre da mesma estrutura não tem forçosamente o mesmo sentido. É por<br />

isso que só existe análise do particular. O que identifica os tipos clínicos é a estrutura, e<br />

não o sentido. Os sujeitos de um tipo, portanto, não têm utilidade para os outros do<br />

mesmo tipo. O discurso de um obsessivo, por exemplo, pode não dar o menor sentido<br />

ao discurso de outro obsessivo. “É disso que resulta só haver comunicação na análise<br />

por uma via que transcende o sentido, aquela que provém da suposição de um sujeito<br />

no saber inconsciente, ou seja, no ciframento” (LACAN, 1973/2003, p. 555). Essa cifra<br />

que localiza o que há de particular em cada sujeito está para além de seu tipo clínico,<br />

ganha a forma do objeto a e assenta-se sobre a materialidade da letra. É onde o núcleo<br />

real de cada sujeito o singulariza.<br />

Se há, qual seria a novidade para a clínica, no que Lacan concebe na década de 70 sob a<br />

égide dos nós borromeus? Por que essa questão sobre o singular na clínica se encontra<br />

com o desenvolvimento da topologia borromeana no ensino lacaniano? O que a<br />

estrutura dos nós introduziria em relação à estrutura da linguagem? Quais suas<br />

conseqüências clínicas para a psicose? A formalização do Real, do Simbólico e do<br />

Imaginário num primeiro tempo, a invenção do objeto a noutro, e a introdução da<br />

topologia, em especial a dos nós no período referido, são, em nosso entendimento,<br />

elementos com os quais Lacan tentou responder às aporias que os avanços teóricos e sua<br />

clínica lhe exigiam. Dessa forma, nessa segunda parte da tese, buscaremos elucidar<br />

alguns termos por ele inaugurados ou retomados em torno da década de 70, buscando<br />

entender como eles podem funcionar como abertura para pensarmos as estabilizações<br />

psicóticas pelo viés da criação.<br />

2.1.2 As condições de possibilidade da construção dos novos conceitos lacanianos<br />

Para Miller (2003b), o final do ensino de Lacan estaria inacabado, apenas anunciado por<br />

traços deixados em sua transmissão. Estes não teriam ganhado nesse caso uma última<br />

versão. Esses restos escritos não existem para orientar as deduções que se podem extrair<br />

desse ensino. Ele sugere tomarmos as placas indicadas como um verdadeiro “caminho<br />

de Roma” (no sentido de caminho certo) a ser seguido, a partir da última conferência<br />

26 Entendemos que os tipos clínicos são decorrentes das três estruturas: neurose, psicose e perversão. Na<br />

primeira, teríamos a histeria e seu dialeto, a neurose obsessiva; na psicose, a esquizofrenia, a paranóia e a<br />

melancolia; enquanto na perversão, o fetichismo e os pares sadismo-masoquismo e exibicionismovoyerismo.<br />

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