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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

Nesse sentido, a discussão emprendida por Rollier (2005) ilustraria a primeira dessas<br />

duas abordagens das suplências. Ele retoma a discussão de Lacan na década de 50 e a<br />

contrapõe à construção proposta na década de 70. Assim, no primeiro tempo de seu<br />

ensino, Lacan isola a necessidade do sujeito psicótico de compensar, suplenciar a<br />

foraclusão do Nome-do-Pai por suplências que são construções significantes, contando<br />

com o Imaginário ou com o Simbólico, seja por identificações, seja pelo esforço de<br />

significantização. Rollier observa também que Lacan estende desde já o conceito de<br />

suplência à neurose, na discussão do caso Hans, referindo-o a uma simples carência da<br />

função paterna.<br />

Em seu segundo ensino, marcado pelo abandono da primazia da função simbólica, o<br />

conceito de suplência ganha outro valor. A partir do Seminário 20, Mais, Ainda...<br />

(1972-73/1982), qualquer que seja a estrutura, Lacan evidencia que entre os sexos dos<br />

sujeitos falantes a relação não se faz. Para além da ordem do simbólico, é o que faz<br />

sentido na lalíngua que vai suplenciar o fato de que não há com o parceiro sexual<br />

nenhuma relação. Daí a proposição de um elemento suplementar, o sinthoma,<br />

permitindo ao nó se atar. Lacan, então, não falaria mais de suplência, mas de sinthoma,<br />

como o que permite ao simbólico, ao imaginário e ao real se atarem uns aos outros, ou<br />

dito de outra forma, “na medida em que há sinthoma, não há equivalência sexual, quer<br />

dizer, há relação” (LACAN, 1975-76/2005, p. 101).<br />

Com isso, Lacan postularia menos uma falta inerente ao simbólico em si mesmo que<br />

uma falta estrutural. Essa seria uma outra maneira de dizer que não há relação sexual.<br />

Essa falta corresponde ao que Miller (1998a) vai chamar de foraclusão generalizada, ao<br />

afirmar que há para o sujeito, não somente na psicose mas em todos os casos, um<br />

indizível. Daí a foraclusão do Nome-do-Pai passar a ser conhecida como a ruptura de<br />

um nó, não mais a rejeição de um significante primordial.<br />

A cadeia significante da primeira clínica seria substituída pela proposta dos três<br />

registros enlaçados borromeanamente. Se o Outro é falível, não existindo nem como<br />

garantia, é preciso um quarto elemento para que Real, Simbólico e Imaginário se<br />

mantenham atados. Rollier (2005) também acredita que, de certa forma, no Seminário 3,<br />

Lacan nos teria preparado para essa idéia com a metáfora do tamborete de quatro pernas<br />

(LACAN, 1955-56/1992, p. 228).<br />

Apesar dessa argumentação, ele nos apresenta quatro modalidades de suplência,<br />

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