19.11.2012 Views

Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

neuropsicoses de defesa” (1894/1976). Nele, essa hipótese central calcada na defesa<br />

ganha dois contornos. De um lado, diante de uma representação incompatível com o<br />

aparelho psíquico, este responde com uma defesa que opera retirando dessa<br />

representação seu afeto, tornando-a fraca e, com isso, destituindo-a da catexia que a<br />

tornava ameaçadora. Essa representação descatexizada é recalcada no inconsciente,<br />

seguindo seu afeto correspondente caminhos diversos, conforme a defesa ocorra na<br />

histeria, na neurose obsessiva ou na fobia. De outro lado, a representação e seu afeto<br />

podem ser rejeitados conjuntamente, não restando um traço inscrito da experiência<br />

hipercatexizada. Este é o caso das psicoses. Assim, apesar de ainda manter atreladas<br />

neurose e psicose como se ambas resultassem do “recalque” 8 , Freud já introduz uma<br />

diferença fundamental na operação estrutural da qual resulta a psicose.<br />

Observe:<br />

“Em ambos os casos até aqui considerados [neurose histérica e neurose obsessiva], a defesa<br />

contra a representação incompatível foi efetuada separando-a de seu afeto; a representação<br />

em si permaneceu na consciência, ainda que enfraquecida e isolada. Há, entretanto, uma<br />

espécie de defesa muito mais poderosa e bem-sucedida. Nela, o eu rejeita a representação<br />

incompatível juntamente com seu afeto e se comporta como se a representação jamais lhe<br />

tivesse ocorrido. Mas a partir do momento em que isso é conseguido, o sujeito fica numa<br />

psicose [...]” (FREUD, 1894/1976, p. 63-64 – grifos nossos).<br />

Aqui Freud já anuncia seu trabalho sobre a diferença entre neurose e psicose da década<br />

de 20, localizando não na perda da realidade, mas no caminho para restaurá-la a<br />

diferença entre as duas estruturas clínicas. A rejeição atinge a própria situação real, que<br />

nunca precisou se tornar consciente. Trata-se de uma defesa tão eficaz, que nega a<br />

realidade mesma da percepção ligada à representação incompatível. Há uma negação da<br />

experiência traumática vinculada à castração, uma ausência de sua inscrição. Melhor<br />

dizendo, a questão da castração sequer é colocada. Há a ausência de seu<br />

8 É importante considerar que, nesses trabalhos sobre as neuropsicoses de defesa (1894/1976 e<br />

1896c/1976), Freud trata indistintamente os termos “defesa” e “recalque”, conferindo-lhes o sentido<br />

genérico de defesa estrutural. Ao longo de sua obra, entretanto, especificamente em “Inibições, sintomas<br />

e ansiedade” (1926[1925]/1976), ele propõe que o termo “defesa” seja utilizado nessa acepção genérica,<br />

designando todas as técnicas empregadas pelo Ego em conflitos que possam levar a uma estrutura<br />

específica: neurose, psicose e perversão. E quanto ao termo recalque (traduzido erroneamente em<br />

português por repressão), propõe que seu uso seja restrito ao mecanismo particular de separação entre<br />

idéia e afeto, característico da estrutura neurótica. Cumpre também ressaltar que usaremos a partir daqui,<br />

ao invés do termo “repressão”, que consta na tradução brasileira da obra, o de “recalque”. Isto porque<br />

repressão se apresenta geralmente associada aos mecanismos defensivos e conscientes do ego. Já o<br />

recalque é a terminologia utilizada para expor a operação inconsciente, responsável por desalojar<br />

representações incompatíveis com o aparelho psíquico, destituindo-as de sua catexia, fundando o aparelho<br />

psíquico dividido em Pcs-Cs e Ics e constituindo-se na defesa neurótica a qual fizemos referência. Para a<br />

operação estrutural que funda a psicose, utilizaremos sempre o termo rejeição, acompanhando a<br />

referência freudiana.<br />

27

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!