Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />
nela se insere a problemática questão de tomar o sujeito do inconsciente como objeto de<br />
investigação.<br />
Como nos lembra a discussão de Lacan em “A ciência e a verdade” (1965/1998), a<br />
psicanálise aparece como uma derivação da ciência, tendo sua condição de possibilidade<br />
radicada no corte que inaugurou, com Descartes e Galileu, a ciência moderna no século<br />
XVI. Com esse corte, porém, a ciência situa e, ao mesmo tempo, exclui o sujeito. É<br />
neste ponto também – acerca do sujeito – que a psicanálise, ainda que derivada da<br />
ciência, avança para além e diversamente dela, ao incluir o sujeito em seu campo. “A<br />
psicanálise constitui um saber inteiramente derivado porém não integrante do campo<br />
científico, porquanto resulta de uma operação de ‘subversão’ desse campo pelo viés do<br />
sujeito” (ELIA, 2000, p. 21). Se o sujeito com o qual a psicanálise opera não é senão o<br />
sujeito da ciência, como afirma Lacan (1965/1998), fato é que esse sujeito é tomado em<br />
sua dimensão radical de sujeito do inconsciente, sujeito desejante e, porquanto, sujeito<br />
que inclui uma articulação que considera o real em jogo na experiência da castração.<br />
É desse saber não-todo constituído pelo inconsciente que a psicanálise parte, na clínica e<br />
na pesquisa. Donde a exigência freudiana (FREUD, 1912b/1976, p. 152) de que, na<br />
psicanálise, “em sua execução, tratamento e investigação coincidam”. Assim, toda e<br />
qualquer pesquisa em psicanálise é, em sua essência, uma pesquisa clínica ou, como diz<br />
Elia (2000, p. 23), “na psicanálise, há, isto sim, um ‘campo de pesquisa’, que é o<br />
inconsciente, e que inclui o sujeito”. A um novo objeto, desenvolve-se um novo<br />
método. É assim que a ciência caminha...<br />
Nesse sentido, a modalidade de pesquisa clínica – redundância do termo – não implica<br />
somente em constituir um saber sobre a psicanálise em seus fundamentos teóricos, mas<br />
essencialmente a partir de sua clínica (FIGUEIREDO et al., 2001, p. 12). É no<br />
exercício da clínica psicanlítica que os pressupostos teóricos que a fundamentam podem<br />
ser postos à prova, articulando a teoria com a prática e fazendo ambas avançarem.<br />
A psicanálise, porém, opera com a realidade sempre a partir de sua definição de<br />
realidade psíquica. Na medida em que parte da constituição da realidade como efeito da<br />
apreensão que o sujeito, determinado pelo inconsciente, faz dela, rompe com a<br />
dualidade externo-interno e objetivo-subjetivo. Como conseqüência, nos adverte que o<br />
acesso ao fenômeno estudado, ao fato empiricamente encontrado, se faz a partir dessa<br />
mediação simbólica, introduzindo a interpretação do sujeito no fato. Nesse sentido, não<br />
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