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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

amar, louco pra te salvar [...] seja maluco mas seja como eu, maluco beleza, da<br />

natureza, das coisas divinas”.<br />

Numa missa campal que ocorreu no local um ano após o incêndio do circo, Gentileza<br />

conta que um jornalista o fotografou e uma senhora contou ao repórter que ele tinha<br />

perdido toda sua família no circo, por isso tinha ficado maluco, passando a residir no<br />

local do circo queimado. Mas Gentileza ia à televisão, às rádios, aos jornais, sempre<br />

desmentindo essa história.<br />

“Eu morava aqui em Deodoro, Guadalupe, bairro do Rio, né? Hoje em dia, desde 1952 até<br />

hoje minha família mora em Guadalupe. Então os jornais publicou dizendo que eu tinha<br />

perdido minha família, tudo calúnia. Colocaram em revista... . Então eu digo assim para<br />

vocês: Meus filhos, vocês nunca podem chegar numa banca de jornal e ler um artigo e<br />

afirmar que aquilo se sucedeu. O papel aceita tudo, a verdade e a mentira, e o jornalista<br />

quer saber de propaganda para vender o jornal. Por isso o que aconteceu foi calúnia”<br />

(GUELMAN,1997, p. 50-51).<br />

Guelman nos relata numa entrevista a importância e a aceitação por parte das pessoas do<br />

fato de o Profeta se estabelecer no local do circo:<br />

“Socialmente eu acho que isso foi bem aceito, por que aí tá uma grande questão: ele figurou<br />

como aquele que perdeu a família no circo, sem ter perdido a família no circo. E cumpria aí<br />

um papel fundamental, e que... Para todas as pessoas que perderam a família no circo, pai,<br />

mãe, irmão, oito pessoas, às vezes foram dez pessoas no circo, uma sobreviveu. Entendeu?<br />

Então, ele não tinha ninguém no circo, ele não estava no circo, nada, mas ele cumpre o<br />

papel daquele, daqueles que perderam toda família no circo. Então tá explicado por que<br />

aquele senhor, aquele homem que estava lá no terreno do circo, que ele foi no circo com<br />

toda família. E, por não aceitar a perda, ele passou a morar no local do circo, e a virar um<br />

profeta. E ficou louco, ficou maluco. Essa é a lenda, o mito que surgiu, inaugural, do<br />

personagem dele” (Relato de Guelman em entrevista).<br />

Como ele pregava a Gentileza e se denominava o Profeta Gentileza, dizia que “se<br />

alguém perguntar quem é o Gentileza, vocês ensinam: é o nosso Pai, Criador Celestial.<br />

Por que Deus é Gentileza? Porque é Beleza, Perfeição, Bondade, Riqueza, a Natureza,<br />

nosso Pai Criador” (GUELMAN,1997, p. 45).<br />

Ele criou várias modinhas, e numa delas destaca a relação do circo com o mundo: “Diz<br />

que o mundo ia se acabar, pois o mundo se acabou, a derrota de um circo queimado é<br />

um mundo representado, porque o mundo é redondo e o circo é arredondado”<br />

(GUELMAN, 2000, p. 15). Guelman, em sua leitura filosófico-estética, também faz<br />

uma relação do mundo com o incêndio do circo na medida em que um circo consumido<br />

pelas chamas, derrotado em sua inocência, representa um mundo e seus valores sob<br />

ameaça de um fim.<br />

Em meados dos anos 60, Gentileza sai do local do circo e começa a deslocar-se entre<br />

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