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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

testemunham esse encontro 61 .<br />

Ocupado cada vez mais em decifrar a presença ex-sistente do Real, Lacan encontra num<br />

recurso matemático, mais uma vez, uma veia fértil de trabalho. Seu esforço de<br />

transmissão da experiência analítica, enquanto operação real de redução do gozo (ou de<br />

estreitamento, se falamos do nó), tem na topologia dos nós uma descoberta essencial e<br />

diferente do uso que fazia do matema.<br />

“... quando soube desses negócios, do nó borromeano [...] Uma coisa é certa, foi que eu tive<br />

a certeza de ser aquilo algo precioso, precioso para mim, para o que tinha a explicar,<br />

imediatamente relacionei esse nó borromeano com o que, desde então, se mostrava a mim<br />

como rodelas de barbante, algo provido de uma consistência particular, que faltava ainda<br />

ser sustentada, mas que era para mim reconhecível no que eu enunciara desde o início de<br />

meu ensino” (LACAN, 1974-75, aula de 18/03/1975 – grifo nosso).<br />

Enquanto os matemas escrevem o irredutível de um saber que pode ser transmissível,<br />

ainda que não-todo, o nó mostra, no silêncio de seu desenho, o real que está lá 62 . Ele<br />

associa as três rodelas do nó aos três registros com os quais trabalha desde suas<br />

primeiras produções, Real, Simbólico e Imaginário. E, como já dissemos, a relação<br />

entre eles aqui ganha uma topologia singular 63 . Eles são tomados como equivalentes,<br />

sendo o nó, enquanto resultado de uma amarração, o real em si mesmo. Daí a idéia de<br />

que, mesmo num nó de três elementos, eles já seriam quatro, o que mostra a presença<br />

ex-sistente do real.<br />

Os matemáticos que se associaram ao empreendimento lacaniano muitas vezes<br />

auxiliaram o mestre a construir sua teoria. Eles foram interlocutores importantes não só<br />

por se colocarem intensamente a trabalho a partir das proposições lacanianas, mas<br />

também pelo fato de que, sendo matemáticos, introduziram um olhar e um diálogo<br />

diferenciados com Lacan. Em diferentes ocasiões, eles desenharam e conseguiram<br />

construir os “objetos lacanianos” 64 ou ensaiaram confirmar (ou refutar)<br />

matematicamente as afirmações lacanianas. Soury chega mesmo a dedicar os últimos<br />

61 Recentemente – Junho de 2006 – Michel Vappereau levou a leilão em Paris parte dos papéis com as<br />

anotações que Lacan lhe dera referente à topologia dos nós e à matemática.<br />

62 Mais ao final de seu ensino, Lacan (1981) irá dizer, num seminário realizado em Caracas, que o nó não<br />

diz tudo (“mon noeud ne dit pas tout ”), pois que não existe “pas tout” seguramente no real que ele<br />

aborda em sua prática.<br />

63 Charraud (1992) identifica em Lacan ao menos três topologias: (1) topologia geral (as vizinhanças); (2)<br />

topologia dita algébrica (as superfícies); (3) topologia do significante (a partir da significação do falo e<br />

aludida, mas não desenvolvida, em relação à metáfora e à metonímia). Com a topologia dos nós, no item<br />

(1), Lacan estaria deslocando a questão de como surgiu o sentido, apontada em “A instância da letra”<br />

(1957b/1998), para a de como, de um nó de sentido, surgiu o objeto a.<br />

64 Soury (1998b, texte 102, page 1) nomeava algumas figuras matemáticas, como o toro ou o nó<br />

borromeano, de objetos lacanianos.<br />

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