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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

anos de seus seminários no Centre national de la recherche scientifique (CNRS) ao<br />

estudo da “topologia lacaniana”.<br />

Um dos interessantes diálogos que evidencia a natureza dessa relação acontece em<br />

1975. Durante seu seminário Joyce, Le Sinthome (1975-76/2005), Lacan retoma a idéia,<br />

já bastante desenvolvida no RSI (1974-75), de que o nó borromeano não é um modelo.<br />

Se o fosse seria da ordem do Imaginário, na medida em que todo modelo situa-se a<br />

partir da substância suposta por este registro (LACAN, 1974-75, aula de 17/12/1974).<br />

Diante desse fato, Lacan espera fazer, do aparente modelo que é o nó borromeano, uma<br />

exceção. E o que significa isso?<br />

Ele é claro: o que faz nó borromeano não é o Imaginário, nem a representação; ao<br />

contrário, é o que escapa a uma representação. “O nó não é o modelo, é o suporte. Ele<br />

não é a realidade, é o Real. O que quer dizer que, se há distinção entre o Real e a<br />

realidade, é o nó, não como modelo” (LACAN, 1974-75, aula de 15/04/1975). Para<br />

Lacan, o nó borromeano é uma escrita que suporta o Real, ele é o suporte. “O nó é<br />

subjacente à linha. Não há consistência que não se suporte do nó. É nisto que, do nó, a<br />

própria idéia do Real se impõe. O Real é caracterizado por se atar, mas é preciso fazer<br />

esse nó” (LACAN, 1974-75, aula de 15/04/75).<br />

A fim de demonstrar sua assertiva, Lacan, no seminário do ano seguinte, propõe a<br />

hipótese de que não seria possível produzir um nó borromeano de quatro nós de trevo.<br />

Provar sua não-existência – e não sua ex-sistência – permitiria que um Real fosse<br />

assegurado. Trataria-se do Real constituído por isso: que não há nó borromeano que se<br />

constitua de quatro nós a três. Demonstrá-lo seria tocar um Real, uma dimensão não-<br />

representável no campo dos nós (LACAN, 1975-76/2005, p. 43). Antes de conhecermos<br />

a resposta dada a Lacan por seus parceiros matemáticos, avancemos um pouco sobre o<br />

que é a demonstração e a mostração para a Matemática.<br />

Em uma demonstração (SOURY, 1988b), o que se discute são as configurações parciais<br />

e as configurações impossíveis, especialmente as configurações parciais impossíveis. (É<br />

o que Lacan pretende aqui. Ele quer demonstrar uma parcialidade impossível para a<br />

teoria dos nós, ou seja, um nó que não pode ser realizado.) Desenhar, ao contrário do<br />

demonstrar, seria mostrar as configurações completas e possíveis. Demonstrar é<br />

principalmente demonstrar as impossibilidades, enquanto mostrar é principalmente<br />

mostrar as possibilidades.<br />

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