Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />
gozo, sujeito e objeto, começa a ganhar nova configuração. E, além disso, elementos<br />
novos, como lalíngua, falasser e letra, surgem no contexto da “lingüística lacaniana”<br />
revirando-a do avesso.<br />
A maioria dos autores contemporâneos (LAURENT (1995b), MICHAUD (1999),<br />
QUINET (1997), RABINOVITCH (2001), SOUZA (1999)), seguindo a trilha aberta<br />
por Freud, localiza no trabalho sobre o delírio uma das soluções encontrada pelos<br />
psicóticos para trabalhar essa delimitação do gozo do Outro. Todos destacam a<br />
diferença, já explicitada, entre delírio e metáfora delirante e, em sua totalidade,<br />
perguntam pelo lugar do analista na condução de um tratamento com psicóticos, sendo<br />
ora mais otimistas ora menos, quanto ao alcance dos resultados que se pode obter nessa<br />
clínica possível. Localizam no ensino de Lacan da década de 50 – referido ao Nome-do-<br />
Pai e à norma fálica – os indicadores estruturais cujas ausências denunciariam a<br />
estrutura clínica da psicose.<br />
Em nossa investigação, entretanto, interessou-nos especialmente investigar a dimensão<br />
teórico-clínica responsável pela análise dos efeitos que a criação artística ou artesanal<br />
pode produzir em casos de psicose, para além somente da discussão em torno da<br />
metáfora delirante e do lugar do analista no tratamento possível da psicose. Nesses<br />
termos, alguns autores têm se detido nessa via de elaboração inaugurada por Lacan,<br />
apontando precedentes para nossa investigação.<br />
Soler (1990) situa em dois registros diferentes as “sublimações criadoras” na psicose.<br />
Num primeiro grupo, tomando como paradigma Rousseau (SOLER, 1998), ela situa o<br />
trabalho de psicóticos de construírem um novo simbólico, o que cumpriria uma função<br />
semelhante àquela do delírio para Schreber. E, num segundo grupo, ela apresenta uma<br />
posição mais radical de soluções que não recorrem ao simbólico, destacando que elas<br />
dizem respeito a uma operação real sobre o real do gozo não articulado pelas redes da<br />
linguagem, aproximando-as do ato como solução ou trabalho na psicose.<br />
“Assim sucede com a obra – pictórica, por exemplo – que não se serve do verbo, senão que<br />
dá a luz, ex nihilo, a um objeto novo, sem precedentes – por isso a obra está sempre fechada<br />
– na qual se deposita um gozo que deste modo se transforma até tornar-se “estético”, como<br />
se diz, enquanto o objeto produzido se impõe como real” (SOLER, 1990, p. 18).<br />
Sobre esse segundo grupo, o paradigma para ela também é a escrita joyceana. A seu ver,<br />
Joyce não retifica o Outro do sentido como Rousseau, mas antes o assassina. A<br />
foraclusão do sentido é correlativa à passagem do texto, que deveria produzir sentido,<br />
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