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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

pequeno a. Se eu reduzo este ossobjeto a esse pequeno a, é precisamente para marcar que a<br />

letra, neste caso, não faz senão testemunhar a intrusão de uma escrita como outra, com um<br />

pequeno a. A escrita em questão vem de outra parte que não do significante” (LACAN,<br />

1975-76/2005, p. 145).<br />

É aqui que a letra e o nó se aproximam. O nó é a escrita com o objeto a, é preciso<br />

escrevê-lo para saber como ele funciona, nos ensina Lacan. Escrita com objeto-letra que<br />

vem de outra parte que não do significante. Ela provém da escrita do traço unário, ao<br />

qual Lacan, com a reta infinita do nó borromeano, confere um outro suporte. Em um<br />

círculo, há um furo no meio, “a reta infinita tem por virtude ter o furo em torno dela<br />

toda. É o suporte, o mais simples, do furo” (LACAN, 1975-76/2005, p. 145). Sulco,<br />

rasura, a escrita é feita da sulcagem do que marca o corpo enquanto gozo, sem nenhuma<br />

anterioridade. Letra. É o vazio escavado pela escrita que, como receptáculo, está sempre<br />

pronto a acolher gozo (LACAN, 1971/1986, p. 31). É essa escrita que o conceito de<br />

letra em Lacan inaugura. É a essa escrita que Lacan, com o nó borromeu, provê um<br />

suporte.<br />

O ego preencheu em Joyce a função de suplência pela escrita, aqui elemento essencial.<br />

Como se vê, Lacan aproxima o nó à letra, no que tange à função de suporte que a escrita<br />

realiza. Onde Lacan fala que é preciso escrever o nó, lemos que é através da função da<br />

letra, entre Real e Simbólico, que uma resposta ao gozo do Outro pode ser cerzida,<br />

enlaçando o Imaginário. Essa é a escrita do ego de Joyce, essa é, portanto, a escrita de<br />

sua suplência, que, neste caso, opera como sinthoma, pois escreve uma resposta<br />

possível à falta do significante referente no campo do Outro, enodando os três registros.<br />

Sua escrita tem pelo menos quatro aspectos que a tornam reparadoras: (a) falta sentido<br />

porquanto opera pelo Real; (b) inclui o objeto a, não sendo somente significante; (c) faz<br />

função de letra e, portanto, de litoral entre real e simbólico; (d) e, enfim, é endereçada,<br />

busca fazer laço social, sendo dirigida a um vasto público. É essa escrita que Lacan<br />

equivale à escrita do nó borromeano. A ilegibilidade do texto de Joyce atesta a natureza<br />

diferenciada de seu ego, corretor da relação faltante que não enoda borromeanamente<br />

real e sintoma.<br />

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