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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

o cavalo de sua angústia fóbica, ponto a partir do qual poderá ele próprio depois,<br />

dominando a situação, também montá-lo.<br />

Por outro lado, Anna é reintroduzida de maneira fantasística, como objeto que sempre<br />

esteve lá. E, mesmo que Lacan não o diga textualmente – posto que sua teoria ainda não<br />

havia avançado até esse ponto –, o circuito da escapada de Hans do zoológico à casa da<br />

avó coloca Anna como resposta no nível do gozo feminino 53 , na medida em que no nível<br />

paterno e fálico Hans não encontrou uma saída (SAUVAGNAT, 1999). Ela aponta para<br />

esse gozo suplementar, sendo incluída na construção da pai-versão de Hans enquanto<br />

acena para a dimensão do gozo do Outro. É assim que, enquanto exceção, o pai opera.<br />

A cada caso, a ele será dada uma versão que inclui um dimensionamento do gozo<br />

conforme os recursos e instrumentos que o sujeito encontra à sua disposição.<br />

2.4.3 A demissão paterna de Joyce e a suplência borromeana na psicose<br />

Lacan também fala de pai carente em relação a Joyce, mas lhe acrescenta o adjetivo<br />

indigno, não por acaso.<br />

“É a seu pai que ele endereça esta oração 54 , seu pai que justamente se distingue por ser –<br />

bofe! – o que nós podemos chamar de um pai indigno, um pai carente, aquele que, em todo<br />

o Ulisses, ele se colocará a procurar sob todos os tipos nos quais ele não o encontra em<br />

nenhum nível” (LACAN, 1975-76/2005, p. 69).<br />

Há, evidentemente, acrescenta Lacan, um pai em alguma parte, Bloom, que procura por<br />

um filho. Mas a ele Joyce opõe um é muito pouco para mim. Com o pai que teve, ele se<br />

diz escaldado, nada de pai. Como se vê, além da demissão paterna, o sujeito tem sua<br />

parte na foraclusão, ainda que isso não nos conduza direta e ingenuamente à idéia de<br />

que o sujeito escolhe a estrutura. Na realidade, como também lembra Lacan, salvo ter<br />

enviado o filho aos Jesuítas, o pai de Joyce se demissiona de sua função.<br />

Pierre Naveau (2004b, p. 208-209) localiza o ponto em que Joyce nos fala desse<br />

episódio na narrativa de Um retrato do artista quando jovem (JOYCE, 1914/1992). Ele<br />

tem seis anos quando entra no colégio. E, aos onze, seus pais são obrigados a se mudar<br />

de Dublin, pois seu pai está arruinado financeiramente. Ele descreve cenas de Stephen,<br />

seu personagem autobiográfico, acompanhando o monólogo entrecortado de suspiros<br />

que o pai enceta sobre sua infância e sua vida na cidade natal. Mas Stephen não<br />

53 Rever discussão na nota de rodapé 36 desta pesquisa.<br />

54 Lacan se refere à frase do fim do livro “Um retrato do artista quando jovem”, de Joyce (1914/1992),<br />

“Old father, old artificer, stand me now and ever in good stead”.<br />

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