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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

isto é, seu efeito de negativização do ser vivente [...] A mutilação real emerge em<br />

proporção à falta de eficácia da castração” (SOLER, 1990, p. 19). Quando o objeto<br />

não é chamado a complementar a falta fálica, corolário imaginário da inscrição<br />

simbólica do Nome-do-Pai, quando é unicamente o duplo especular do sujeito, torna-se<br />

sinônimo de morte. Segundo Bechelany, como hipótese demonstrada em sua dissertação<br />

de mestrado,<br />

“A passagem ao ato na psicose pode ser vista como essa tentativa de realizar a castração<br />

simbólica, à qual ele [psicótico] não teve acesso, pela via do real. Trata-se de obter a<br />

extração desse objeto, desse ponto de gozo que invade e submete e, ao mesmo tempo, a<br />

separação radical do Outro. Extrair esse objeto, que é ele mesmo, do campo do Outro,<br />

representa para o psicótico a possibilidade de libertação do Outro, conjugado com uma<br />

certeza que só poderia ser arrancada do próprio ato em si” (BECHELANY, 1999, p. 17).<br />

Solução que longe de favorecer o laço social desfaz suas possibilidades, posto que auto<br />

ou heteromutilador, o ato redunda em agressividade, violência e, algumas vezes, em<br />

crime. Estratégia de estabilização, portanto, que não se deve encorajar na clínica com a<br />

psicose. Podemos, no máximo, aprender com o ato na psicose o que, de sua essência,<br />

pode nos auxiliar a pensar o campo das estabilizações. Há um excesso a ser subtraído na<br />

economia psíquica do psicótico. Esse excesso que não caiu sob a forma de objeto a,<br />

invade e exige a construção de uma barreira, sua extração real ou simbólica, ou ao<br />

menos sua localização. Fiquemos por enquanto com essas indicações.<br />

B. A metáfora delirante<br />

Antes de terminar a formulação da noção de objeto a, Lacan trabalha o delírio como<br />

solução psicótica enquanto metáfora delirante que funciona como suplência ao Nome-<br />

do-Pai foracluído. A idéia da metáfora delirante é correlativa à operação da metáfora<br />

paterna. A década de 50, período da formulação da metáfora paterna e da metáfora<br />

delirante, é caracterizada no ensino de Lacan pela primazia do simbólico, do poder do<br />

significante, sendo a estrutura da linguagem a base para sua formulação, ainda que já se<br />

evidencie o impossível de escrever como real em jogo em qualquer estrutura clínica.<br />

Para Lacan, quando de seu nascimento, a criança é confrontada com o desejo do Outro<br />

(materno) que significa suas experiências primárias. Ao grito da necessidade responde o<br />

desejo desse Outro nomeando, para o infans, sua demanda (LACAN, 1956-57/1995).<br />

Esse trabalho de simbolização primordial, que Freud (1920/1976) estabelece a partir do<br />

automatismo da repetição da brincadeira do fort-da, implica na presença-ausência<br />

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