Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />
no real sem significação. A grafia da expressão “sedi di shacina” é por ele estabelecida<br />
já de uma maneira singular, incluindo retalhos da escrita indiana de autores que cita<br />
para bordar possíveis pontos de estofo. A expressão parece-nos, assim, organizar uma<br />
direção subjetiva em face do caos que se instalou em sua vida com o desencadeamento.<br />
O trabalho consecutivo a ela testemunha o esforço delirante em se fazer um corpo capaz<br />
de acolher o gozo que o transborda, amparado pela escrita, pela pintura e pelo teatro.<br />
Ele trabalha incessantemente sobre essa frase, tendo escrito mais de sessenta livros,<br />
pintado algo em torno de 100 quadros e articulado toda essa produção ao teatro da<br />
crueldade, de Antonin Artaud. Se, aparentemente, parece haver uma deslizante busca de<br />
sentido para a expressão, é possível depreender de seu esforço a tentativa de cifrar e<br />
estacionar essa correnteza de gozo, ainda que ele se mantenha submerso à lógica de seus<br />
Outros – figuras de seu folclore pessoal de quem extrai as máximas sobre as quais<br />
sustenta seus passos.<br />
Ao lado de Artaud, Sevananda 100 e Krishnamurti 101 são autores cujas idéias dão corpo ao<br />
discurso de A., muitas vezes pura citação deles. É de um misto de referências e citações<br />
que A. se serve para escrever seu texto. Entretanto, essas intervenções do Outro não têm<br />
o mesmo valor das epifanias no texto de Joyce.<br />
“Eis o que ele queria fazer, acrescenta, era registrar essas cenas, essas pequenas comédias<br />
realistas que dizem tanto. Temos, então, uma espécie de desdobramento da experiência<br />
(digamos para simplificar um lado realista e um lado de alguma forma poético) e uma<br />
espécie de liquidação, de censura” (AUBERT, 1976/2005, p. 181).<br />
Joyce interpõe seu texto literal na literatura que escreve. Por seu turno, A. é escrito pelo<br />
texto do Outro, cujas citações colam-se em seu discurso antes como semblante que<br />
como fragmento de real. A. parece permanecer colado no Outro, feito um apêndice, não<br />
conseguindo nele escrever seu lugar. Em outros termos, Simbólico e Imaginário<br />
100 Sri Sevananda, o Conde francês Leo de Mascheville, é autor do livro O mestre Philippe de Lyon, pai<br />
dos pobres. Morou na Argentina, no Uruguai e no Brasil, tornando-se instrutor espiritual desde 1924.<br />
Ainda em Montevidéu, fundou a "Associação Mística Ocidental", sob a direção do Mestre Philippe,<br />
escola que se tornou um centro de União de Correntes Espirituais: Essênios, Suddha Dharma Mandalam,<br />
Rito Egípcio de Osíres, Ramakrishna Ashrama, Kriya Yoga, Yoga Ashrama, Comunidade Sufi,<br />
Satyauraha Ashrama, Ordem Martinista, Maitreya Mahasangah, Ordem Cabalística Rosae Crucis,<br />
Departamento do Verbo, Zen Boddhi Dharma, e Igreja Expectante, com contatos com os representantes<br />
de quase todas essas correntes. Muda-se posteriormente para o Brasil, onde funda uma nova Ordem e<br />
morre. Mais informações sobre sua vida no site: <br />
101 Jiddu Krishnamurti, nascido em 1895, na Índia, talhado para se tornar o ' Instrutor do Mundo ', segundo<br />
os teosofistas, tornou-se chefe da Ordem Internacional da Estrela do Oriente em 1911, que abandonou em<br />
1925 para se tornar um mestre autônomo. Escreveu mais de 60 livros, deu palestras por todo o mundo,<br />
pregando o autoconhecimento, mas recusou a posição de guia espiritual. Mais informações sobre ele no<br />
site: .<br />
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