19.11.2012 Views

Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

juízo que se realiza em dois tempos.<br />

“Atribuição e existência, em sentido estrito, correspondem às duas decisões do mesmo<br />

juízo, cuja topologia seria um oito interior” (VIDAL, 1988, p. 24). Aqui se destaca uma<br />

topologia do sujeito que já rompe com a idéia de dentro e fora, ao mesmo tempo em que<br />

a institui. O equivalente ao sujeito interior, sujeito da psicologia, diferente do mundo<br />

externo, seria a esfera, superfície bilátera que divide o espaço em um interior e um<br />

exterior. Há, entretanto, na apresentação freudiana a referência a uma topologia que<br />

inclui o inconsciente. Negar implica em ‘liberar’ do recalque alguns significantes que<br />

podem retornar à cadeia. Não há ali dentro ou fora. Podemos dizer, com Lacan, que<br />

Freud nos apresenta o inconsciente como estrutura moebiana 13 . Numa única borda o<br />

significante precipita o laço social, seja como articulação, em cujo intervalo se situa o<br />

sujeito, seja como materialidade significante e como barra, o que instaura uma<br />

disjunção entre significante e significado. “A Verneinung é da ordem do discurso, e<br />

concerne ao que somos capazes de fazer vir à tona por uma via articulada” (LACAN,<br />

1955-56/1992, p. 101).<br />

Na discussão do texto freudiano que empreende em seu seminário, Lacan reafirma a<br />

dimensão fundadora da ordem simbólica na Bejahung. Para que um sujeito não queira<br />

saber de algo no sentido do recalque, é preciso que esse algo tenha vindo à luz pela<br />

simbolização primordial. E no mesmo movimento em que algo é introduzido no sujeito,<br />

algo é expulso e resta fora. É aí que se constitui o real, “na medida em que ele é o<br />

domínio do que subsiste fora da simbolização” (LACAN, 1954/1998, p. 390). A<br />

Behajung, correlacionada a uma inclusão significante, não é outra coisa senão a<br />

condição primordial para que, do real, algo venha a se oferecer à revelação do ser.<br />

Comporta, portanto, uma Ausstosung, uma expulsão do eu, constitutiva do Real. Eis a<br />

função primordial do juízo de atribuição.<br />

“A segunda decisão, a da existência real de uma coisa representada, se funda sobre essa<br />

partição entre simbólico e real. Como sucessão da Ausstosung primeira, se determina o real<br />

como fora da simbolização. A negação – die Verneinung – sucessão da Ausstosung, se<br />

estende no domínio do princípio da realidade” (VIDAL, 1988, p. 26).<br />

São operações, ao mesmo tempo que sucessivas, necessárias umas às outras e, portanto,<br />

13 “A fita de Moebius pode ser ilustrada por uma tira que se fechou, depois de ter-lhe sido aplicada uma<br />

semitorção. Essa curiosa superfície apresenta a propriedade de ter apenas um único lado e uma única<br />

borda. Essa fita, na qual o lado direito se prende ao lado do avesso, representa a relação do<br />

inconsciente com o discurso consciente. Isso significa que o inconsciente está do avesso, mas pode surgir<br />

no consciente em qualquer ponto do discurso” (CHEMAMA, 1995, p. 212).<br />

32

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!