19.11.2012 Views

Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

enquanto objeto a. Esse desenvolvimento será essencial para o estabelecimento da idéia<br />

de um gozo suplementar e da noção de letra.<br />

Comecemos pelo objeto a. Vemos que o fato de a cadeia significante ser o que dá<br />

consistência à existência do sujeito, não implica em que essa consistência seja concreta.<br />

Ao contrário, ela é lógica e sustentada no campo do Outro pelo objeto a. “Situar a<br />

consistência lógica no campo do Outro é o fundamento de todo discurso, o princípio<br />

mesmo do laço social” (MILLER, 1996d, p. 197). Sendo lógica, essa consistência se<br />

extrai do objeto a, que toma consistência quando se fala à medida que se o aniquila.<br />

Portanto, é também um resto, no sentido de resto por dizer. É por isso que<br />

“o objeto a como semblante tem seu lugar entre o simbólico e o real. É uma consistência<br />

lógica que faz semblante de ser, e é o que só é encontrado quando do simbólico se vai em<br />

direção ao real. O objeto a é uma elaboração simbólica do real que, na fantasia, toma o<br />

lugar do real, mas ela é apenas um véu. Sua função específica é complementar a referência<br />

negativa do sujeito. O objeto a, como consistência lógica, está apto a encarnar o que falta<br />

ao sujeito. É o semblante de ser que a falta-a-ser subjetiva convoca. É por isso que o objeto<br />

a como consistência lógica é próprio para dar seu lugar ao gozo interdito, ao objeto<br />

perdido” (MILLER, 1996d, p. 196).<br />

Assim, a extração do objeto a é apenas um outro nome para a castração. Na psicose, a<br />

não incidência da castração seria a responsável pela consistência do objeto que se<br />

manifestaria, por exemplo, nos olhares que se alucinam ou na multiplicação de vozes<br />

que se escutam. O Outro na psicose sabe, tem existência real, e, por isso, persegue, ama,<br />

modifica o corpo do psicótico, altera sua vontade, impõe-lhe pensamentos (GUERRA,<br />

2000, p. 241).<br />

Se o neurótico trabalha a partir das palavras, extraindo um gozo a mais na produção<br />

analítica sob a consistente forma lógica do objeto a, que queda excedente ao final de<br />

uma análise, poderíamos supor, com o aporte teórico da década de 60, que na psicose<br />

seria preciso extrair do campo do Outro esse gozo excessivo que invade o psicótico.<br />

Nesse sentido, a solução, enquanto trabalho de estabilização na psicose, poderia se valer<br />

de diferentes expedientes, isolados ou conjugados, tais que ato, obra, metáfora delirante,<br />

identificação, transferência.<br />

No que toca a essa dimensão teórica, inúmeras questões surgiram daí a partir do final do<br />

ensino lacaniano, problematizando para nossa pesquisa pontos fundamentais. Lacan não<br />

está mais a falar em representação de um significante para outro significante, tendo o<br />

sujeito como resultado, como na metáfora paterna neurótica da década de 50, na qual<br />

vemos a primazia do simbólico. Ao mesmo tempo, a disjunção entre significante e<br />

55

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!