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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

consistência, que, do mesmo modo, seja do furo que eu faça o essencial do que é do<br />

Simbólico, e que eu suporte especialmente do Real o que eu chamo de ex-sistência”<br />

(LACAN, 1974-75, aula de 18/03/1975).<br />

É do fato de que dois sejam livres um do outro que se suporta a ex-sistência do terceiro,<br />

especificamente a do Real em relação à liberdade do Simbólico e do Imaginário. A<br />

partir do momento em que o Real é enodado borromeanamente aos dois, eles lhe<br />

resistem. Isso quer dizer que o Real só tem ex-sistência na medida em que encontra no<br />

Simbólico e no Imaginário sua parada, seu limite. Daí Lacan afirmar e reafirmar<br />

continuamente que o Real não é apenas uma rodela do nó borromeu, mas o efeito da<br />

maneira como ele se amarra. O que nos importa aqui é essa operação real que, como<br />

veremos, desloca e fixa o gozo. Trabalho permitido por uma renomeação do sujeito a<br />

partir da versão do pai que estabelece.<br />

Nesse diálogo, portanto, com a matemática e com os matemáticos, Lacan não faz nada<br />

mais que, como sempre, orientar a clínica e reconduzi-la a sua radicalidade. Podemos<br />

dizer que ele estabelece com a Matemática uma relação muito próxima da que<br />

estabelece com a Filosofia 65 . Apesar de serem saberes disjuntos, Lacan coloca a<br />

Matemática a serviço de seu trabalho teórico. Ele não a utiliza apenas como ilustração<br />

lateral, mas dela extrai aportes que lhe permitem forjar seus conceitos clínicos.<br />

Alguns anos após o suicídio de Soury em 1981 – três meses antes da morte de Lacan –,<br />

Thomé edita seu curso numa trilogia de cerca de seiscentas páginas 66 nas quais se<br />

encontram desenvolvimentos teóricos, lógicos, geométricos e aritméticos da topologia<br />

matemática, desenhos topológicos, rascunhos de idéias de sua aplicação à psicanálise,<br />

diálogos com Lacan, e dados da história pessoal de Soury. Deles podemos extrair a<br />

experiência viva da parceria dessa dupla de matemáticos com Lacan perscrutando os<br />

arredores e as veias principais dos três livros. Em comunicação pessoal com Thomé, ele<br />

diz que, com a edição do livro, tratava-se de fazer viver a genialidade de seu parceiro e<br />

dar a ele o lugar destacado que merecia na posteridade.<br />

3.1.1 A disposição clínica de um objeto matemático<br />

A importância desse diálogo para a psicanálise reside, em nosso entender, na mostração<br />

do Real, realizada através da presença da Matemática na elaboração lacaniana da clínica<br />

65 Apoiamo-nos na proposta de BAAS (1992) acerca da relação Psicanálise-Filosofia para pensar a<br />

relação Matemática-Filosofia.<br />

66 SOURY, Pierre. Chaines e Noeuds. Paris, 1998. (Première, Deuxième et Troisième Parties).<br />

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