Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />
próprio pai ter passado por essa iniciação com uma ferida (evocação da castração do<br />
pai).<br />
O que Hans busca é o encontro com esse pai castrador. Se, do lado da mãe, a fantasia de<br />
ser engolido e devorado (que aparece na figura da mordida e da devoração do cavalo)<br />
acena para castração materna, sabemos que daí o sujeito não sai, senão com a<br />
substituição pela castração paterna. Esta é suscetível de desenvolvimento dialético,<br />
enquanto a primeira não. “Uma rivalidade com o pai é possível, um assassinato do pai<br />
é possível, uma eviração do pai é possível. Por este lado, o complexo de castração é<br />
fecundo no Édipo, no lugar em que não o é pelo lado da mãe” (LACAN, 1956-57/1995,<br />
p. 377).<br />
Uma vez que é impossível emascular a mãe, uma impossibilidade se coloca no<br />
horizonte da solução ao impasse colocado por sua castração. É a castração paterna que<br />
vem em seu auxílio. Como ela não se apresenta para Hans, exigirá dele um trabalho a<br />
mais que a suplencie. Como Hans resolve o impasse? Como suplencia a pura ameaça de<br />
devoração total pela mãe?<br />
O começo da articulação se dá com a fantasia da banheira e da furadeira. Será assim que<br />
a mãe será demolida e o pai convocado a desempenhar o papel de furador, substituído<br />
pelas figuras do Schlosser, que começou a desaparafusar a banheira, e depois pelo<br />
instalador que viria para trocar o traseiro de Hans. Diferentemente da suposição<br />
freudiana de que, com isso, Hans ganharia outro pênis no traseiro, Lacan aponta que era<br />
preciso que algo fosse desmontado e se modificasse em Hans no nível da estrutura e,<br />
portanto, da estrutura da linguagem em seus efeitos sobre o corpo. Esse seria o esquema<br />
fundamental do complexo de castração. A mordida materna, elemento instrumental e<br />
substituto da intervenção castradora, deriva quanto a sua direção aparecendo deslocada<br />
nessas fantasias. Isso é suficiente para uma primeira redução da fobia. Há uma<br />
modificação em Hans.<br />
Neste ponto, Anna, sua irmã caçula, entra em jogo como um elemento cuja queda é<br />
possível e desejada, articulando o segundo aspecto da fobia de Hans, a queda do cavalo.<br />
Como podemos lembrar, a fobia se instala sobre a figura do cavalo em relação ao temor<br />
de sua mordida e de sua queda. Anna é, portanto, associada ao termo inassimilável da<br />
situação, ao que pode cair. E aqui Lacan aponta a construção de uma solução imaginária<br />
diante da dimensão real intolerável introduzida por ela. De um lado, Hans a faz montar<br />
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