Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />
do gozo a sua parte que resta como vivificadora, elemento pulsante que permite ao<br />
desejo construir seus nomes e seus percursos. Caminhemos, então, pelos nós da<br />
topologia...<br />
3.1.2 Topologia dos nós: noções matemáticas fundamentais<br />
Os principais estudos de Lacan acerca dos nós datam da década de 70. Nesse período,<br />
os matemáticos que se dedicavam ao tema ainda não tinham realizado o avanço que data<br />
da década de 80. A teoria dos nós nasce no final do século passado, sendo<br />
contemporânea da invenção da psicanálise. Mas mesmo os egípcios já utilizavam os nós<br />
para marcação de medidas dos campos após as cheias do Nilo. Trata-se da cadeia do<br />
agrimensor que se encontra na origem da matemática egípcia (GRANON-LAFONT,<br />
1996). Foi somente no final do século XX, entretanto, com o desenvolvimento da<br />
informática e com o uso do computador para resolver as fórmulas teóricas do nó, que<br />
um avanço mais consistente se deu. É com Vaughan Jones, inventor do “polinômio de<br />
Jones” em 1984, que invariantes sofisticados para abordar os nós começam a ser<br />
desenvolvidos (SOSSINSKY, 1995). A essa época, Lacan já havia morrido...<br />
Dessa forma, acompanhando a discussão lacaniana, buscaremos, apoiados na topologia<br />
dos nós, destrinchar sua teoria de base, no que ela concerne e serve ao saber e à clínica<br />
da psicanálise. Como vimos, na medida em que Lacan avança em suas discussões<br />
acerca de um certo impossível de apreender, mais ele se vale desse recurso para falar do<br />
que se escreve como Real. Pensamos que o uso da topologia, nesse sentido, a<br />
necessidade de pegar e fazer os nós com fios ou cordas concretamente, é imprescindível<br />
e autentica uma forma de pensar a clínica como operação que parte do Real. Para além<br />
de teorizar ou conceituar as questões do inconsciente e do sujeito ou, em outras<br />
palavras, para além de produzir sentido, de operar com a elucubração do saber advindo<br />
da debilidade do inconsciente, Lacan nos convida a operar com o Real em jogo em<br />
qualquer forma de saber.<br />
Já desde as fórmulas da sexuação, mas principalmente com Joyce, Lacan parece<br />
desacreditar do poder do significante, da eficácia simbólica da palavra. A aridez<br />
hermenêutica dos nós é consubstancial a este período do ensino lacaniano, demarcando<br />
uma orientação para o analista que acirra os efeitos e o manejo do real do gozo. Discutir<br />
as diferentes formas de amarração borromeanas, e mesmo não borromeanas, os erros ou<br />
146