19.11.2012 Views

Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

Apontado nos casos clínicos o que da criação se faz escrita de nó, podemos concluir que<br />

a estabilização psicótica, quando faz suplência, se articula no nível do artifício que o<br />

sujeito inventa para fazer dessa criação letra de gozo.<br />

Descartes nos ensina a nos exercitarmos nas coisas mais simples – como no trabalho<br />

dos artesãos que fazem tapetes, no das mulheres que bordam ou fazem renda e nas<br />

combinações de números pela aritmética –, porém com método, até chegar à sua<br />

verdade íntima. Assim, podemos deduzir de princípios evidentes várias proposições que<br />

parecem difíceis e complicadas.<br />

Essa é a indicação a que Lacan se refere ao abrir seu seminário topológio, o Seminário<br />

RSI, no qual nos introduz efetivamente na topologia dos nós, especialmente na<br />

topologia borromeana. Para ele, não foi por acaso que Descartes aproximou a<br />

aritmética, os tapetes, as tranças e os nós, ainda que ele não tenha se ocupado desses<br />

últimos. Ele toma como orientação essa relação cartesiana para dela extrair suas<br />

conseqüências clínicas.<br />

As tranças do nó borromeu implicam na escrita característica dos três registros para o<br />

falasser. A especificidade do falasser reside no fato de que os registros entre si estão<br />

soltos dois a dois, sendo atados de uma maneira borromeana pelo terceiro. A não-<br />

relação entre cada dois registros mostra a impossibilidade da relação sexual, exigindo a<br />

presença de um terceiro elemento para atá-los. Esse é o efeito real do nó: os registros se<br />

encontram sobrepostos dois a dois, sendo enodados por um terceiro de tal forma que,<br />

rompendo-se um deles, os outros dois registros quedam desatados. É assim que o nó faz<br />

existir o furo.<br />

Foi essa característica que levou Lacan a isolar em um quarto elemento, por ele<br />

denominado sinthoma, o efeito real do nó. Com isso, evidencia a impossibilidade<br />

original do ser falante de dar conta do real – foraclusão generalizada –, havendo sempre<br />

a necessidade de um quarto elemento para suplenciar a relação originalmente faltante do<br />

sujeito com o Outro. Não existe Outro do Outro que garanta a escrita do sujeito como<br />

ser de linguagem. A linguagem aparece, então, como ornamento, como elucubração do<br />

sujeito sobre o campo de gozo que a língua materna (lalíngua) contém.<br />

A entrada da linguagem no real do corpo é sempre traumática e será escrita pela letra,<br />

enquanto litoral entre real e simbólico. É sobre esse suporte que se apóia o significante<br />

243

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!