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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

“O ‘brilho do nariz’ [em alemão, ‘Glanz auf der Nase’] era na realidade um vislumbre<br />

(glance) do nariz” (FREUD, 1927/1976, p. 179), que somente o jovem experimentava<br />

como forma de satisfação sexual.<br />

A linguagem não possui três dimensões, ela é sempre aplainada em duas. Daí Lacan ter<br />

começado com a história dos nós de três rodelas, no qual o simbólico, passando por<br />

cima, depois por baixo das rodelas dos outros registros, e assim sucessivamente, teria<br />

por efeito, cortando-se um dos registros, liberar os outros dois. Há, pois, a necessidade<br />

de três, no mínimo (ainda que eles sejam quatro, como vimos, pois há o nó em si<br />

mesmo como resultado).<br />

Essa reflexão inspirou Lacan a querer identificar o real a esse terceiro elemento<br />

articulado à matéria de uma maneira muito singular, através do “l’âme-à-tiers” (o<br />

espírito à terceira). Interessante aqui ressaltar ao menos dois aspectos. Primeiramente,<br />

ao tratar da matéria do real, Lacan a nomeia alma, espírito, mente – que em francês<br />

encontram em “âme” a mesma significação. Já de saída, portanto, a matéria do real é<br />

inconsistente nela mesma.<br />

Mas há um segundo aspecto que articula o real e a linguagem – e esse é o ponto central<br />

que, entendemos, levou Lacan a teorizar os nós para explicar o real na clínica<br />

psicanalítica. Não há na linguagem uma relação binária, do tipo “X (relação) Y”.<br />

Segundo Peirce, como já dito, é preciso uma lógica ternária, signo, objeto e<br />

interpretante no estabelecimento e na utilização do signo. A exigência desse terceiro<br />

autoriza Lacan a falar em “tiers”, em terceiro termo, mesmo em se tratando de uma<br />

referência à linguagem. Trata-se de um terceiro termo determinante, diferenciado em<br />

relação aos outros dois, signo e objeto, posto que ex-sistente a eles. Se não há três<br />

dimensões na linguagem, isso não quer dizer que dois elementos lhe sejam suficientes.<br />

É preciso uma engrenagem, um terceiro elemento lógico, para que ela funcione como<br />

tal. Esse terceiro elemento está lá, sem contar, mas sendo contado, considerado, e mais,<br />

sendo essencial na estrutura do funcionamento da linguagem. Por isso, o real teria o<br />

mesmo estatuto no nó. Foi o que Lacan nos mostrou ao longo do Seminário RSI.<br />

O significante, é disso que se trata no inconsciente, em suma, que falamos, ainda que,<br />

como falasser, falemos completamente sós. Em outras palavras, o isso, dialoga, e foi<br />

isso que Lacan designou pelo nome de Grande Outro. Trata-se do fato de que há<br />

qualquer coisa de outra, o que ele denominou de “l’âme-à-tiers”, que não é somente o<br />

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