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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

para tentar debilmente dar conta do real. O significante sempre falha nesse intento e, por<br />

conseqüência lógica, o Nome-do-Pai, como significante que garantiria uma função<br />

estabilizadora central para o falasser, também rateia. Lacan, então, pluraliza os nomes<br />

do pai, enquanto função de nomeação, discutindo as diferentes possibilidades de<br />

suplência a essa falha do nó que eles poderiam reparar. A suplência ganha, então, a<br />

coloração de uma invenção subjetiva para dar conta dessa falha que é estrutural para<br />

todos, deslocando do campo das psicoses a idéia de um déficit originário a ser suprido<br />

para a exigência do falasser em construir uma resposta à falha do Outro.<br />

A pluralização dos nomes do pai aponta para a escrita possível de um suplemento a essa<br />

falha – escrita do nó como pontua com exatidão o texto lacaniano. Assim, as três formas<br />

de nomes do pai, as que nomeiam, são o imaginário, o simbólico e o real. Nesses nomes<br />

é que está o nó. O simbólico pode, então, ser substituído pelo binário<br />

(simbólico+sintoma) que o desdobra, numa amarração ou numa nomeação, operada por<br />

um reforço desse registro. Lacan tratará esses dois termos por (inconsciente+sinthoma).<br />

Esse binário se enoda borromeanamente aos outros dois registros, real e imaginário,<br />

conformando a característica essencial do ser falante.<br />

Vemos, portanto, que o quarto elemento aqui corresponde ao que suplencia a falência<br />

do Outro. À nomeação do simbólico como sintoma, acrescenta-se a nomeação do real<br />

como angústia e a do imaginário como inibição. Não foi à toa que Lacan introduziu o<br />

desenho desse quarto termo, a partir da localização do Édipo como o que amarra a<br />

realidade psíquica freudiana, como nomeação do real pela angústia da castração.<br />

Nomeação, escrita ou amarração completamente diferente dessas é a que Lacan extrai<br />

do texto de Joyce. Nele Lacan identifica um erro do nó no qual, ao invés de superpostos,<br />

os registros do real e do simbólico apresentariam um “erro” ao se entrelaçarem, restando<br />

somente o imaginário solto. Neste caso a escrita joyceana forja um ego-sinthoma que<br />

repara o erro como suplência, através de um artifício suplementar, sua obra, que<br />

prescinde do pai, foracluído de fato. O Outro do Outro real é a idéia que Lacan faz do<br />

artifício enquanto um fazer que escapa, que transborda o gozo que se pode ter dele.<br />

Joyce se escreve em sua obra com a letra a. Modifica o estatuto da escrita e faz dela<br />

ego, não em sua dimensão narcísica, mas como escrita que porta, força o objeto a. É<br />

como desabonado, não tributário do inconsciente, que ele extrai um gozo disjunto do<br />

Outro com sua obra.<br />

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