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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

lá pronunciada, “La troisième” (LACAN, 1975a), e trabalhado ao longo dos seminários<br />

que se seguiram ao RSI (LACAN, 1974-75).<br />

A orientação é essencialmente lacaniana. O próprio Lacan nos lembra que seu trabalho<br />

foi o de extrair da intuição e da teoria freudianas registros para formalização da<br />

psicanálise.<br />

“[...] que eu tenha começado pelo Imaginário e, em seguida, precisado um bocado mastigar<br />

essa história de Simbólico com toda essa referência linguística sobre a qual efetivamente<br />

não encontrei tudo aquilo que me teria facilitado. E depois, esse famoso Real, que acabei<br />

por lhes apresentar sob a forma mesma do nó” (LACAN, 1974-75, aula de 14/01/1975).<br />

O primeiro esforço de recuperação da clínica psicanalítica em Lacan (década de 50)<br />

teria sido uma tradução de Freud, no sentido de produção de novas interpretações a<br />

partir do texto original. Haveria, nesse período, pontuações do texto freudiano. No<br />

retorno a Freud, Lacan teria traduzido rejeição por foraclusão, destacado o traço unário<br />

e a castração, retomado a noção de eu como pivô da experiência analítica e a função da<br />

fala como única operatória na prática analítica, suportada pelo campo da linguagem.<br />

Porém, com essas retomadas, ele não teria feito mais que pontuações. Elas vão até<br />

formalizações, é certo, mas não excedem o status de pontuação na tradução que<br />

efetivam de Freud. Poderíamos mesmo dizer que se trata de um trabalho metódico de<br />

crítica que tensiona as aporias freudianas, discutindo suas conseqüências. Dessa<br />

maneira, a primeira clínica seria uma celebração do acontecimento-Freud e do<br />

desenvolvimento de suas conseqüências, tomados enquanto novidade radical, corte em<br />

relação ao que antecedeu Lacan e guia obrigatório de acesso ao inconsciente e de uma<br />

direção que convém ao tratamento analítico (MILLER, 2003b, p. 08).<br />

Lacan também teria apresentado a disjunção entre sujeito do inconsciente e sujeito da<br />

consciência de si. Da autonomia da consciência, Lacan chegaria à autonomia do<br />

simbólico, operando essa passagem ancorado no estruturalismo de Lévi-Strauss. Mas,<br />

ainda assim, seriam pontuações, traduções de um sentido verdadeiro da obra freudiana,<br />

desviada principalmente pelos pós-freudianos da Psicologia do Ego norte-americana.<br />

No “Seminário sobre a carta roubada” (LACAN, 1957a/1998, p. 13-66), em especial,<br />

Lacan cria o esquema de alfa, beta, gama e delta para ilustrar o automatismo do<br />

simbólico, para conferir ao inconsciente enquanto memória o suporte simbólico. Ele<br />

começa por evidenciar que o aleatório – tal qual a cara e a coroa na lei das<br />

probabilidades – é impossível de ser previsto, organizado, calculado. Não se pode<br />

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