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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

Figura 32 – Erro e suplência em Joyce no nó de trevo (LACAN, 1975-76/2005, p. 88)<br />

Mas, para além da discussão pouco consensuada sobre ser Joyce um psicótico ou não,<br />

interessa-nos tomá-lo como paradigma do efeito sinthoma no trabalho de suplência. E se<br />

a foraclusão não é só do Nome-do-Pai na psicose, também sua reparação não será<br />

privilégio dessa estrutura clínica. Ao contrário, vemos Joyce na década de 70 ser<br />

tomado como paradigma de como se pode construir uma solução ao impasse colocado<br />

pela falta do significante no Outro. Na primeira clínica, o Nome-do-Pai imprimia à<br />

constituição do sujeito neurótico ou perverso um organizador comum e, à falta dele,<br />

encontraríamos a estrutura ‘defeituosa’ da psicose, como vimos. A proposta de tomar<br />

Joyce como paradigma da suplência de maneira não igual para não todos, mas comum a<br />

qualquer um, é clara em Lacan, na década de 70.<br />

“O que eu proponho aqui é considerar o caso de Joyce como respondendo a uma maneira<br />

de suplenciar um desanodamento do nó. [...] A isso podemos remediar colocando ali uma<br />

argola, graças à qual o nó de trevo afirmado não se fará em flocos” (LACAN, 1975-<br />

76/2005, p. 88).<br />

Lacan já havia introduzido a noção de sinthoma em Joyce em sua conferência intitulada<br />

“Joyce, o sintoma” (1975/2005). Mas aqui ele avança nessa discussão e propõe que seu<br />

desejo de ser um artista que ocuparia o maior número possível de pessoas, seria<br />

exatamente o compensatório do fato de que seu pai jamais fora para ele um pai. Não<br />

operou a transmissão, enquanto pai real, do significante do Nome-do-Pai, como vimos.<br />

A Verwerfung de fato da demissão paterna teria sido compensada pelo desejo de ser um<br />

artista que ocuparia o maior número de pessoas possível. Aqui o significante do Nome-<br />

do-Pai revela a disjunção entre a função de nomeação e a função paterna. A demissão<br />

paterna provocou um trabalho de nomeação operado pelo próprio escritor. Assim,<br />

podemos dizer que o lapso do nó em Joyce é justamente a demissão paterna de sua<br />

função de nomeação. Enquanto, por seu turno, o sinthoma joyceano – a saber, a<br />

invenção de um nome próprio e o desejo de ser artista – repara esse erro do nó,<br />

compensando uma Verwerfung de fato.<br />

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