Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />
imagem dele como Profeta, né? Ele era moralizador, entendeu? Era a época da<br />
minissaia, então ele corria atrás das mulheres com saia curta”.<br />
Conhecido como o pregador da barca, ele fazia ensinamentos religiosos e também<br />
morais. Dizia, por exemplo, “se a saia sobe, a moral desce”. E ainda, na pilastra 39,<br />
“gentileza contra o pecado capital – não podem andarr maltrapilhos de calsas curtas<br />
com o peito da camisa aberta descamisados para com jessuss e defuntos anbulantes<br />
contaminando 95 por cento e pobres duentes cegos no pecado capital satana por<br />
jessuss gentileza”.<br />
Na década de 80, assume definitivamente a bata, a bandeira e os cata-ventos, conferindo<br />
significação especial a cada detalhe de sua indumentária. Ele se escreve nas pilastras, na<br />
bata, no seu estandarte, na sua caligrafia. O Profeta explica o que significa usar<br />
problemas e pobreza no bolso, uma vez que no escrito está explícito “NÃO-USEM-<br />
PROBLEMAS-NÃO-USEM-POBREZA-USE-AMORRR-USE-GENTILEZA”. Por que<br />
será que é exatamente sobre o bolso de sua bata que ele coloca este escrito? Bom, ele<br />
diz que o uso material do bolso, o uso financista da riqueza, é o problema e, ao mesmo<br />
tempo, a pobreza. Somente se não fizermos esse uso da riqueza, seremos conduzidos ao<br />
uso do AMORRR (não material) e da gentileza. Assim, a maior expressão da riqueza é a<br />
gratuidade que se relaciona às coisas materiais e implica diretamente a natureza, que é a<br />
maior fonte de riqueza, pois nos dá tudo de graça sem cobrar nada. “A-NATUREZA-<br />
NÃO-VENDE-TERRAS-A-NATUREZA-NÃO-COBRA-PARA-NOS-DAR-<br />
ALIMENTAÇÃO”.<br />
Realiza grandes viagens pelo Brasil, num trajeto circular, pregando as palavras de<br />
gentileza, sempre se movimentando de um município a outro. Além das viagens, há<br />
uma grande intervenção de Gentileza na paisagem do município do Rio de Janeiro.<br />
Entre a Rodoviária Novo Rio e o Cemitério do Caju, numa extensão de 1,5km,<br />
Gentileza realiza seus 55 escritos murais sobre as pilastras do Viaduto do Gasômetro. A<br />
obra de Gentileza demarca um espaço e uma permanência para sua mensagem. A partir<br />
de então, o Profeta não pinta mais sobre placas ou cartolinas, mas diretamente sobre a<br />
superfície de concreto. A escrita inventada com sua singular caligrafia e seus símbolos,<br />
já presente em suas placas e em seu estandarte, se registra agora no texto da própria<br />
cidade, transformando pilastras em tábuas de seus ensinamentos. Guelman nos relata<br />
que Gentileza não escolheu por acaso o Viaduto do Caju.<br />
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