Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />
4.1 Discussão Metodológica<br />
4.1.1 O método de pesquisa orientado pela psicanálise<br />
Se a metodologia indica o caminho a seguir para se alcançar um objetivo, sabemos que,<br />
no campo da psicanálise em sua inter-relação com a ciência, esse caminho não é<br />
desprovido de dificuldades. Apesar do desejo freudiano de inserir a psicanálise no<br />
campo científico, ela sempre teve uma relação de exterioridade com a ciência por<br />
suportar e considerar os efeitos do real em sua elaboração e em sua clínica, a partir da<br />
dimensão do inconsciente. Lacan trata dessa dificuldade ao falar que fazemos de nosso<br />
objeto, sujeito, e sujeito dividido em si mesmo...<br />
Discutindo o polêmico texto de Freud (1933/1976), “A questão de uma<br />
Weltanschauung”, Figueiredo (2001, p. 07-10) traz apontamentos que nos orientam a<br />
pensar a pesquisa em psicanálise e, portanto, estas dificuldades. Se a psicanálise é<br />
incapaz de criar uma Weltanschauung 87 própria por um lado, por outro, “sua<br />
contribuição à ciência consiste justamente em ter estendido a pesquisa à área mental”<br />
(FREUD, 1933/1976, p. 194). No debate em relação à ciência, à religião, à arte e à<br />
filosofia, a psicanálise aparece como uma parte da ciência e, portanto, aderida à<br />
Weltanschauung científica, precisamente por essa contribuição específica quanto ao<br />
mental.<br />
“Entenda-se o mental seja como for: da alma (como no original alemão), do psíquico, na<br />
raiz da palavra ‘psicanálise’ ou do próprio inconsciente como objeto construído. O que<br />
interessa é que o método só pode advir da pesquisa e não de outros recursos mais próprios<br />
aos demais saberes em questão [religião, arte, filosofia]” (FIGUEIREDO, 2001, p. 8-9).<br />
Se o comentário do texto extrapola aqui nossos objetivos, ao menos dele podemos<br />
extrair o que é essencial à metodologia de pesquisa em psicanálise para nossos fins. Ao<br />
modo da ciência, mas devido à incompletude de seus achados e por não pretender<br />
estendê-la muito além o valor de suas construções lógicas, é possível ler no desejo de<br />
Freud o compromisso da psicanálise com a realidade que investiga e com os conceitos<br />
que formula então.<br />
Específica, ainda que incompleta, a psicanálise parte em sua formulação do que a<br />
orienta na clínica: a castração enquanto impossibilidade real de simbolização. É<br />
exatamente nessa interseção da clínica com a ciência que a pesquisa deve caminhar. E<br />
87 Freud (1933/1976, p. 193) define a Weltanschauung como “uma construção intelectual que soluciona<br />
todos os problemas de nossa existência de modo uniforme com base em uma hipótese superior que, por<br />
sua vez, não deixa questão sem resposta, e onde tudo o que nos interessa encontra seu lugar fixo”.<br />
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