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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

Essa lógica reaparece em Alvarenga (1999), que também recorre a Joyce. Segundo ela,<br />

trata-se de caso paradigmático de psicose não desencadeada graças ao trabalho criativo<br />

que, nele, toma a forma de sintoma, daquilo que amarra os três registros, vindo no lugar<br />

do objeto fixador de gozo. Mas um sintoma que prima pela falta de sentido. Ela destaca<br />

o endereçamento do material produzido como crucial à estabilização, seja para onde for<br />

que ele se dirija. Para ela, é somente sobre um fundo de linguagem, onde a fala está<br />

potencialmente presente, que “mesmo que o sujeito nada tenha a dizer sobre o objeto<br />

produzido, o fato de que ele é endereçado a alguém coloca-o em pauta numa relação<br />

onde o que é criado pode ser lido” (ALVARENGA, 1999, p. 120). Interessante<br />

destacar, na posição de Alvarenga, a função do endereçamento na solução pela via da<br />

criação artística que não prescindiria da linguagem.<br />

Birman (1989), por seu turno, concebendo os objetos como objetos da pulsão, e não<br />

objetos aprisionados pelo discurso racional sugere que, por isso mesmo, ao entrarem no<br />

circuito pulsional, eles possibilitariam, através da metáfora delirante ou da arte,<br />

estabilização. Na medida em que é reconhecido pelo Outro, ele entra no circuito<br />

pulsional com os outros objetos, permitindo a estabilização na psicose.<br />

Finalmente, Quinet (1997), ao discutir o caso de Arthur Bispo do Rosário, propõe a arte<br />

como saída pela via do sintoma, implicando numa tentativa de barrar a Coisa. “O<br />

sintoma é uma modalidade criacionista de o sujeito lidar com a Coisa...” (QUINET,<br />

1997, p. 222). Para ele, tanto Bispo quanto Schreber são levados a realizar o impossível<br />

do imperativo de gozo que é, ao mesmo tempo, um imperativo de significantizar o real,<br />

coisificando a linguagem e literalizando as coisas. Em Bispo, haveria um trabalho entre<br />

real e simbólico ao modo hegeliano: ao nomear o objeto, ele aprisiona a Coisa,<br />

significantiza o real alinhavando-o ao simbólico. Esse sintoma, entretanto, não é<br />

suficiente para provocar o laço social já que é para Deus, e não para a civilização, que<br />

Bispo endereça seu trabalho.<br />

Especialmente nessa discussão, Quinet (1997, p. 220-238) pensa a arte na psicose no<br />

sentido da criação, operando pelos registros real e simbólico. Afirma haver dois tempos<br />

na constituição do delírio e da arte em Bispo. Um primeiro momento, no qual o delírio é<br />

desencadeado a partir de uma alucinação; e um segundo em que ele emerge como o<br />

criador do mundo com sua obra. Localiza também a obra de arte na psicose como<br />

estando fora do âmbito do Nome-do-Pai, servindo de sintoma na tentativa de barrar o<br />

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