Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />
operando, a partir da produção delirante, pequenas entradas que visam instalar uma<br />
barra nessa relação, recuperando o que há de singular e próprio nas criações de A.. É um<br />
cálculo acertado que tem gerado como efeito uma nova repartição do gozo e algumas<br />
pontuações no trabalho que deslizava sem cessar. Ela o atende quinzenalmente em sua<br />
residência, com projeto de transferir esse atendimento para o consultório. Veremos<br />
como os diferentes elementos clínicos introduzidos com sutileza nesse contexto têm<br />
permitido novos endereços para localização do gozo, pacificando A..<br />
4.3.2 Um estudo psicanalítico do caso<br />
A. Primeiros recursos antes do desencadeamento<br />
Até a adolescência, não encontramos nenhuma indicação de psicose em A. no relato dos<br />
entrevistados. A relação dele com a arte nasce aos 16 anos, quando inicia um curso de<br />
teatro. Nesse período, dos 16 aos 18, 19 anos, escreve dez livros com estórias no estilo<br />
do realismo fantástico. Ele também fazia uso de drogas, como a maconha, que eram<br />
utilizadas com os amigos, com quem depois formaria o grupo dos “sete cavaleiros do<br />
apocalipse” que, delirantemente, ele lidera até hoje. Talvez a identificação com os<br />
amigos tenha sido o elemento mais importante a sustentá-lo no eixo imaginário a-a’ até<br />
o desencadeamento. A identificação com os irmãos artistas parece ser outro elemento de<br />
estabilização, mas decididamente é secundário nesse processo.<br />
A escrita e o teatro aparentam ter sido também recursos imprescindíveis nesse período,<br />
configurando-se em via de escoamento pulsional e, por isso mesmo, de contenção de<br />
um ato que comportasse maior risco. Podemos mesmo hipotetizar que, no período dos<br />
16 aos 19 anos, esses recursos funcionaram paralelamente à identificação imaginária,<br />
como via de contenção do desencadeamento. O uso da droga, já presente nesse período,<br />
sempre se associou ao sofrimento, ao que intervinha sobre o corpo e dificultava a<br />
relação com este.<br />
B. Desencadeamento e sua relação lógica com uma possível suplência<br />
A primeira “crise” de A. acontece, segundo seu relato e o da mãe, em torno dos 19 anos.<br />
A psicanalista que o atende lembra que, ainda aos 16 anos, ele vê um clarão na sala de<br />
aula que talvez fosse um prenúncio do momento do desencadeamento. Para A., tratava-<br />
se da “fagulha essencial”, que aparece associada ao encontro com o Outro sexo, na<br />
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