Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />
da estrutura clínica, em duas grandes vias, a do significante (ou do Outro), concernente<br />
ao acting-out, e a do objeto, referida à passagem ao ato. Esta última, a que interessa à<br />
nossa investigação diretamente, consistiria em separar a vida de sua tradução, de sua<br />
transposição no Outro, momento em que não se faz possível nenhuma mediação, mas<br />
que traz um caráter resolutivo. Apesar de haver uma causa posta em jogo, ela não pode<br />
ser interpretada pois não se inscreve no campo do Outro. Sua causa conjuga-se com o<br />
objeto, inassimilável pelo significante, concernente ao gozo e localizado no Outro em<br />
exterioridade. Diz respeito ao objeto a. O sujeito sai de cena no momento do ato.<br />
Na psicose, não se dá a extração do objeto a e, por conseguinte, a castração não opera<br />
seus efeitos de organização simbólica a partir do significante primordial – o significante<br />
do Nome-do-Pai –, nem traz a significação do falo – significante da ausência – como<br />
testemunha da inscrição da castração, a partir da qual se constituiria a tela da fantasia.<br />
A cena montada na fantasia não pode ser referida ao psicótico, posto que esta diz<br />
respeito, na neurose, justamente à tela que o sujeito constrói diante do horror do objeto<br />
que cai como o impossível de significar no complexo de castração. Tela que enquadra a<br />
realidade, desdobrando-se na relação simbólica com o significante; véu sobre o qual<br />
pinta-se a ausência. “A cortina assume seu valor, seu ser e sua consistência justamente<br />
por ser aquilo sobre o que se projeta e se imagina a ausência” (LACAN, 1956-<br />
57/1995, p. 157).<br />
É o Nome do Pai que limita e esvazia o gozo do Outro, separando o gozo do corpo e<br />
fundando o sujeito capaz de desejar. O psicótico, que foraclui o Nome do Pai, terá<br />
sempre o Outro presentificado, invadindo suas relações. “Na psicose, como efeito da<br />
não inclusão da castração no Outro, tem-se o fato de ele falar, de estar aí do lado de<br />
fora, presentificando-se nas alucinações” (QUINET, 1997, p. 108).<br />
Sabemos que a castração implica no recorte de gozo que, localizado, separa o sujeito do<br />
campo do Outro. Por conta da não extração do objeto a na psicose, o gozo, não<br />
significantizado e contido, retorna como real em excesso. Assim, o psicótico permanece<br />
identificado à posição de gozo do Outro, oferecendo-se ele próprio como objeto no<br />
lugar da falta que não se inscreveu pela castração.<br />
Podemos supor que é desse objeto que – duplicado na relação imaginária com o outro e<br />
estando como que em excesso – o sujeito tenta se desvencilhar na passagem ao ato na<br />
psicose. “Realizam em ato, a título quase de suplência, o efeito capital do simbólico,<br />
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