Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />
central e cria um impasse ao se pensar que, idosa, pode em breve não estar mais<br />
presente na vida de A.. Por outro lado, gera impasses quanto à dificuldade de conquista<br />
de autonomia por parte do filho. Ela tem uma verdadeira adoração por A.. Foi essa<br />
entrada, por vezes, intrusiva, que permitiu um mínimo de estrutura para que ele pudesse,<br />
de um lado, dispor de recursos para inventar suas soluções mas, de outro, se acomodar<br />
nessa relação de apoio.<br />
Em 2003, um acontecimento contingencial marca uma reviravolta no caso. Em uma de<br />
suas crises, é levado pela família para um CERSAM 94 . Lá é recebido por uma<br />
funcionária administrativa, B., com quem cria um vínculo banhado de real. Os olhos<br />
azuis dela operam como objeto que sustenta um enlaçamento do real, a partir do qual<br />
arrefecem suas crises. Decide, então, parar de fumar e de usar drogas. O tratamento<br />
psiquiátrico passa a ser referenciado neste serviço.<br />
O encontro com a sensibilidade clínica de seu psiquiatra, Dr. V. Tavares, orientada pela<br />
psicanálise, favoreceu o respeito ao estilo de solução que A. já começara a construir. Ele<br />
não freqüenta o serviço, sua mãe é quem vai às consultas e cuida de seu cotidiano.<br />
Após o encontro com B. e com seu médico psiquiatra, A. presenteia os dois e o serviço<br />
com seus quadros, deixando de comparecer às consultas já que estava presentificado<br />
objetivamente no serviço através de suas telas: “ir lá não é importante, meu quadro já<br />
está lá”.<br />
Mas, avisado, Dr. Tavares continua o tratamento recebendo a mãe de A. e indicando<br />
uma psicanalista para realizar visita familiar, visando constituir um espaço analítico<br />
para ele. O trabalho com ela inicia-se em março de 2006.<br />
Dessa forma, ele intervém sobre a qualidade da relação de A. com o tratamento,<br />
alterando sua medicação e sustentando um vínculo possível de trabalho, sem interferir<br />
na produção subjetiva autoconstruída por ele, que garantia sua mínima estabilização.<br />
A. deixa de lado o uso diário da maconha, cria um vínculo com o serviço sustentado à<br />
distância através da mãe como mediadora, mantém o trabalho com a pintura e com a<br />
escrita e, por hora, apresenta menos alucinações.<br />
A analista toma como direção a produção de uma escansão entre A. e seu Outro,<br />
94 O CERSAM é um dispositivo da rede de Saúde Pública e, neste caso, equivale ao CAPS 24 horas,<br />
proposto em portaria pelo Ministério da Saúde. Visa atender às urgências subjetivas e psiquiátricas,<br />
rompendo com o circuito de internação. Para isso, conta com equipe multiprofissional e diversidade de<br />
modalidades de intervenção, tais como consultas, visitas domiciliares, oficinas terapêuticas, passeios e<br />
trabalho com a família.<br />
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