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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

imaginário, que Lacan chama de falo (Ф) 96 .<br />

Se tomamos como fato de estrutura que a linguagem se articula sobre lalíngua, que há<br />

um caos originário diante do qual o sujeito se posiciona na estrutura, parece-nos que a<br />

psicose evidencia a determinação e o transbordamento dessa dimensão caótica sobre a<br />

linguagem através dos fenômenos elementares. Se na neurose a inscrição do sujeito faz<br />

escrita de letra da incidência do significante sobre o gozo, organizando um campo<br />

semântico que passa a constituir o conjunto das identificações referenciais do sujeito, na<br />

psicose nos deparamos com outra solução.<br />

É certo que a linguagem não dá conta desse excesso – chamado, de uma maneira<br />

preliminar, em Freud de pulsão e em Lacan de gozo –, veiculado por lalíngua. Mas, na<br />

neurose, a linguagem enquanto estrutura funciona como elucubração de um saber<br />

possível sobre essa verdade inacessível, causal. E na psicose? Na psicose, nos vemos<br />

face a face com o horror desse caos. Os fenômenos elementares evidenciam, de outra<br />

forma, o mesmo fracasso da linguagem como arranjo débil sobre lalíngua. O que<br />

transborda nesses fenômenos fala do que não se pode domesticar pela linguagem no<br />

humano, aponta o real como o impossível, ao mesmo tempo que indica que qualquer<br />

ensaio de significação fracassará no mesmo ponto em que a linguagem se estruturará<br />

com débil. É aí que o final do ensino de Lacan inaugura algo de novo. É da insistência<br />

daquilo que Freud dizia aparecer como irredutível no final de uma análise que Lacan,<br />

então, nos convidará a fazer dele um uso, a savoir-y-faire em relação a qualquer<br />

estrutura clínica.<br />

Nesse sentido, apostar na solução assintótica da metáfora delirante na psicose nos<br />

aproxima da crença de que a linguagem pode produzir um sentido derradeiro sobre a<br />

Coisa, uma aposta no que fracassa também na solução neurótica. Quando Lacan<br />

introduz toda a gama de novos conceitos em seu ensino na década de 70, parece estar<br />

nos advertindo desse risco clínico e nos convidando a repensar a direção de um<br />

tratamento. Reverter o circuito pulsional e aprender a fazer do sintoma um uso implica<br />

em pensar as diferentes formas de amarração que o sujeito pode inventar na articulação<br />

dos três registros, Real, Simbólico e Imaginário. Nesse sentido, a invenção de uma<br />

suplência é para todos e a debilidade do ‘normal’ se torna evidente.<br />

“Oh! O meu problema foi iniciado num centro de candomblé. Um espírito de ‘prostigação’<br />

96 Cf. Fig. 05, lembrando que, neste caso, o nó não se ata borromeanamente, havendo uma disjunção,<br />

como veremos, entre os registros.<br />

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