Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />
irmã casada morando em terreno contíguo ao de sua casa atualmente. Ele praticamente<br />
não a visita. Existe o projeto de que uma irmã solteira venha morar com ele quando se<br />
aposentar daqui a alguns anos. Sobre a vida familiar pregressa, o pai se separou da mãe<br />
quando ele tinha dez anos, voltou para casa e se separou de novo quando A. estava com<br />
16/17 anos. Em 1992, perdeu o pai, contando à época 28 anos. Todos os irmãos são<br />
vivos. A mãe relata que A. se mostra cada vez menos sociável, encontrando-se numa<br />
situação de pobre contato afetivo. Praticamente não sai de casa mais sozinho, nem no<br />
bairro rural no qual mora, e depende essencialmente dela para tudo. Abaixo seguem<br />
seus dados de vida cronologicamente organizados.<br />
A. cresce num ambiente familiar católico e artístico nos bairros de Encantado e Rio<br />
Comprido na cidade do Rio de Janeiro. Com dez anos, em 1974, vivencia a primeira<br />
separação de seus pais.<br />
Aos 16 anos, inicia um curso de teatro, no qual se destaca, segundo ele, sendo o<br />
preferido do professor dada sua habilidade para as artes cênicas. Na época, ele escreve<br />
dez romances num estilo surrealista, como o “Shanura Metamórfica”, “Balaostro”,<br />
“Monomontanha” ou o “Shartaque”. Anda de moto e namora, “é genial”, segundo ele<br />
próprio. Nesse período ocorre a segunda separação de seus pais.<br />
Em torno de 1983, aos 19 anos, encenava peças de teatro, escrevia e fazia uso abusivo<br />
de droga (maconha). Com dificuldades para precisar os acontecimentos do período, fala<br />
da morte de dois amigos em diferentes acidentes, um de moto e outro ao se defender de<br />
um assalto. É nesse período também que localiza a irrupção de fenômenos elementares<br />
sob a forma de alucinações e fenômenos corporais. Ele se fecha, ficando taciturno e<br />
estranho aos olhos da família que busca auxílio psiquiátrico. São, então, orientados a<br />
levá-lo para uma vida no campo, como forma de exercitar-se na praxiterapia,<br />
modalidade corrente de terapêutica psiquiátrica na época. Ele é enviado para Japuré<br />
(RJ), na fazenda de parentes, e depois para Carangola (RJ). Mas a estratégia não gera os<br />
efeitos esperados pela psiquiatria. Ele não se apazigua.<br />
Pouco depois da irrupção desses fenômenos, é acometido por uma alucinação verbal<br />
que se torna ponto-chave para sua estratégia de estabilização. Trata-se da escuta da<br />
frase: “[não] sedi di shacina”. Ela orientará todo seu percurso de trabalho subjetivo<br />
posterior. Após o desencadeamento da psicose, A. escreve mais de 30 pequenos livros<br />
falando sobre a “[não] sedi di shacina”. Muda-se, com a mãe, para Santa Tereza no<br />
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