Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS
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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />
Figura 31 – Cadeia borromeana e nó de trevo (LACAN, 1975-76/2005, p. 87)<br />
A materialidade do nó se situa na corda que o realiza exatamente por ser ela que<br />
sustenta o que se ata e a maneira como se ata. O nó de trevo, então, Lacan o generaliza:<br />
“por que não entender que cada uma dessas argolas continua na outra de uma maneira<br />
estritamente não distinguível? Ao mesmo tempo, não é um privilégio do estar louco”<br />
(LACAN, 1975-76/2005, p. 87). Essa amarração, intrínseca ao falasser, trava no seu<br />
miolo o objeto a, o que faz obstáculo à expansão do imaginário concêntrico e evidencia<br />
a inexistência da relação sexual ao exigir um terceiro elemento ao par disjunto de dois.<br />
Nesta discussão, ele aponta a suplência como invenção que se soma para reparar ou<br />
remediar o lapso do nó. E ele exercita o uso da topologia como ferramenta clínica na<br />
leitura do caso de Joyce. Ao se perguntar a partir de quando se é louco e, mais<br />
exatamente nesse seminário, se Joyce era louco, ele avança na noção de erro do nó e de<br />
sua operacionalidade (LACAN, 1975-76/2005, p. 81).<br />
“Se aqui vocês mudam alguma coisa na passagem por debaixo dessa asa, resulta ali<br />
imediatamente que o nó é abolido por inteiro. O que eu levanto como questão nessa<br />
tagarelice, a saber, se, sim ou não, Joyce era louco, pode aqui ser localizada” (LACAN,<br />
1975-76/2005, p. 87).<br />
Lacan hipotetiza uma falha na amarração do nó de trevo em Joyce, que precisa suprir<br />
esse desanodamento colocando uma argola onde o erro se apresenta. Graças a ela o nó<br />
de trevo não se desmanchará. Como já tivemos oportunidade de ver, há no falso nó de<br />
trevo um falso ponto de cruz. Originalmente o ponto de cruz 1 passa por cima, o 2 por<br />
baixo e o 3 por cima. Ao criarmos artificialmente o erro no ponto de cruz 1, criamos<br />
uma condição de falso trevo, na medida em que o nó se converteu em trivial, mantendo<br />
apenas a apresentação gráfica semelhante à do de trevo. Há, pois, um lapso no ponto de<br />
cruz 1. Aí Lacan introduz a argola que corrige o erro.<br />
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