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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

maneira, poderíamos sofisticar a discussão de nossa questão através da análise do que<br />

era ou não operatório na estabilização de cada caso.<br />

7 ª . Paralela à investigação clínica corria a pesquisa teórica em torno do tema das<br />

estabilizações nas psicoses a partir do referencial psicanalítico.<br />

D. Contingências determinantes: tiquê e automaton na pesquisa em psicanálise<br />

No desenvolvimento da pesquisa teórica, tivemos acesso a inúmeros casos de psicose<br />

que estabeleceram alguma relação com a criação, em geral artística, na elaboração de<br />

sua estabilização, tais como Arthur Bispo do Rosário, Van Gogh, Camille Claudel,<br />

pacientes da Casa das Palmeiras (Rio de Janeiro). Chamou especial a atenção o caso do<br />

Profeta Gentileza. Apesar de tratar-se de um caso relatado pelo viés de uma leitura<br />

filosófica e estética, o material com o qual nos deparamos oferecia-se com uma riqueza<br />

ímpar para nossos estudos. Tratava-se de livros e CD-ROMs sobre uma figura lendária<br />

que viveu nas ruas do Rio de Janeiro, e nelas pregou a “gentileza”, pintando nos muros<br />

do Viaduto do Caju mensagens que traduziam sua missão de ensinar o perdão e mostrar<br />

o caminho da verdade e da moral aos homens. Dada sua notoriedade, a obra de<br />

Gentileza tornou-se patrimônio cultural do Rio de Janeiro.<br />

Gentileza era paradigmático para nossa investigação, pois trazia uma psicose<br />

desencadeada, a criação, uma escrita com caligrafia absolutamente singular e um<br />

trabalho de estabilização que explicitava a escrita da letra de uma forma única. Através<br />

de um trabalho sistematizado de transmitir sua mensagem, fosse através da pregação, da<br />

pintura de seus murais ou de sua própria indumentária, Gentileza criou uma saída que<br />

nos colocou a trabalho enquanto aprendizes da clínica (ZENONI, 2000). Rompeu com a<br />

repetição sistemática com que a pesquisa se desenvolvia, obedecendo à lógica<br />

metodológica que a orientava, e se interpôs em seu percurso como contingência<br />

necessária (!) a ser considerada.<br />

Por outro lado, um outro encontro, ou uma nova contingência, nos retirou de nosso<br />

caminho na vertente da pesquisa de campo. Sabendo de nossa investigação, um<br />

psiquiatra da rede municipal nos procurou em um dia de entrevistas, interrompendo-nos<br />

para dizer de um caso que não podíamos deixar de incluir neste trabalho. Tratava-se de<br />

A., flagelo de Deus, jovem homem, esquizofrênico, que pintava e escrevia<br />

incessantemente na tentativa de escrever-se um nó. Com a psicose desencadeada ainda<br />

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