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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

Aubry 78 , Lacan registrou a possibilidade de a criança inscrever-se, não só como fantasia<br />

da mãe, mas também como sintoma da família, ampliando o arsenal de leitura das<br />

psicoses infantis.<br />

No que toca especificamente à topologia, Lacan irá se servir, sobretudo, da topologia<br />

das superfícies (Banda de Moebius, toro, cross-cap, garrafa de Klein). Nesse período, a<br />

topologia ainda aparece como um ensaio de redução teórica e, enquanto tal, como um<br />

modelo. Lacan apresenta o horizonte epistemológico de sua obra: a constituição da<br />

psicanálise como ciência, ciência do inconsciente, a começar pela noção de que o<br />

inconsciente é estruturado como uma linguagem. Esse projeto, apresentado literalmente<br />

no Seminário 11, é seguido pela dedução de “uma topologia cuja finalidade é dar conta<br />

da constituição do sujeito” (LACAN, 1964/1998, p. 193). Ele se apóia nos matemas, no<br />

uso das ‘letrinhas’ que condensam idéias. O artifício aparece aqui, mas ganhará<br />

articulação como suplência somente no caso Joyce. “Não há topologia que não<br />

demande suportar-se de algum artifício” (LACAN, 1964/1998, p. 198). A topologia<br />

ainda é tomada como uma representação que intenta alcançar o mínimo formalizável de<br />

um saber, não é ainda mostração do real.<br />

Como também atestamos, em 1966, Lacan irá articular pela primeira vez a oposição<br />

entre sujeito do significante e sujeito do gozo, instalando uma disjunção entre os dois<br />

termos essencial à clínica (LAURENT, 1995b, p. 117). De um lado, o sujeito do<br />

significante funciona como base para uma clínica orientada pela produção do sentido,<br />

pela busca de uma verdade, desde sempre perdida na experiência traumática. De outro,<br />

o sujeito do gozo veicula um modo de satisfação e um circuito de repetição que estão<br />

além da captura de sentido pelo significante. A introdução do objeto a no período marca<br />

uma posição de destituição no trabalho clínico. “A interpretação não visa tanto o<br />

sentido quanto reduzir os significantes a seu não-senso, para que possamos<br />

reencontrar os determinantes de toda a conduta do sujeito” (LACAN, 1964/1998, p.<br />

201). Com isso, exige uma clínica em ato que aposta, não apenas na redução operada<br />

pelo trabalho significante, mas também no aprendizado de uma certa maneira de lidar<br />

com esse gozo que resta inanalisável. É com esse resto opaco que o sujeito deverá<br />

savoir y faire, como propõe Lacan na década de 70. Vimos que lá essa relação se<br />

complexifica, pois ele irá falar que o significante veicula gozo, articulando de outra<br />

78 Cf. “Nota sobre a criança” (1969/2003, p. 369-370).<br />

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