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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

1.1 Introdução às Psicoses e às Estabilizações: Freud e Lacan<br />

Apesar de, para Freud, a clínica com a psicose ter sido entendida como contra-indicada,<br />

ele mesmo abre a possibilidade, caso se modifique o método psicanalítico (FREUD,<br />

1940[1938]/1976), de que seu tratamento se torne possível 7 . A dificuldade encontrada<br />

por Freud não se situava exatamente do lado do psicótico, mas do lado da transferência.<br />

Sabemos que ele realizou extenso estudo sobre a psicose em 1911 a partir dos escritos<br />

autobiográficos do Presidente Schreber do qual extraiu os principais aportes teóricos<br />

sobre o assunto, tendo formulado aí o aforismo do delírio como a tentativa de cura, ou<br />

de solução, na psicose. Ou seja, há um movimento do psicótico em direção à<br />

estabilização. Entretanto, a especificidade da transferência nessas “neuroses narcísicas”<br />

(como ele tomava a psicose em oposição às neuroses transferenciais: histeria e neurose<br />

obsessiva) inviabilizaria seu tratamento analítico.<br />

“... aqui as catexias objetais são abandonadas, restabelecendo-se uma primitiva condição de<br />

narcisismo de ausência de objeto. A incapacidade de transferência desses pacientes (até<br />

onde o processo patológico se estende), sua conseqüente inacessibilidade aos esforços<br />

terapêuticos, seu repúdio característico ao mundo externo, o surgimento de sinais de uma<br />

hipercatexia do seu próprio ego, o resultado final de completa apatia – todas essas<br />

características clínicas parecem concordar plenamente com a suposição de que suas<br />

catexias objetais foram abandonadas” (FREUD, 1915a/1976, p. 224-225).<br />

Sabemos que essa indicação freudiana não escapará a Lacan, que se dedicará a extrair a<br />

particularidade da transferência na psicose pela via da erotomania. Ao mesmo tempo em<br />

que avança teoricamente, não cede clinicamente da possibilidade de seu tratamento.<br />

Freud, por seu turno, se dedicou a pensar a psicose (paranóia) enquanto uma das defesas<br />

à castração, ao lado da histeria e da neurose obsessiva, já em seus primeiros escritos e<br />

rascunhos, como no “Rascunho H” (1895/1976) ou “Rascunho K” (1896a/1976), em<br />

“As neuropsicoses de defesa” (1894/1976) e “Observações adicionais sobre as<br />

neuropsicoses de defesa” (1896c/1976). Não trabalhou nesse período as soluções<br />

encontradas na psicose, mas antes seu mecanismo estruturante e fundador.<br />

Somente nos estudos clínicos do Presidente Schreber é que Freud traçou a diferença<br />

entre a enfermidade e as elaborações mediante as quais o sujeito responde aos<br />

fenômenos dos quais padece. Após 1911, com o texto “Sobre o narcisismo: uma<br />

7 “Assim, descobrimos que temos de renunciar à idéia de experimentar nosso plano de cura com os<br />

psicóticos – renunciar a ele talvez para sempre ou talvez apenas por enquanto, até que tenhamos<br />

encontrado um outro plano que se lhes adapte melhor.” (FREUD, 1940[1938]), p. 200)<br />

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