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Andréa Máris Campos Guerra - CliniCAPS

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A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência<br />

sustentado entre duas mulheres, como suas obras testemunham. Suas esculturas<br />

representam sempre três ou mais figuras que se transformam umas nas outras,<br />

mescladas, em continuidade, sem ruptura. O horror aparece nos furos e buracos que<br />

atravessam a argila e revelam uma atividade delirante que caminha silenciosa. Ensaiam<br />

furar e extrair no real um quantum de gozo que lhe permita viver com menos<br />

sofrimento. O que ele escreve em suas obras? Ou o que não escreve? De que forma suas<br />

esculturas podem se articular ao trabalho de estabilização por ele ensaiado? Antes com<br />

uma postura altiva e entusiasmada, O. hoje se apresenta taciturno, tímido, retraído.<br />

Em nossa prática nas oficinas, verificamos a pluralidade de usos que o sujeito podia<br />

fazer da criação, e que O., em sua peculiaridade, o atestava. Outros sujeitos que faziam<br />

uso da criação artística não se estabilizavam, não se tornavam “artistas” ou nem mesmo<br />

eram tocados por essa produção. Outras vezes, transformavam-se num espaço rico para<br />

enfrentamento da psicose. Em nossa dissertação de mestrado, esta dimensão foi<br />

ressaltada. De alguma maneira, as oficinas voltadas às atividades de criação artística<br />

e/ou artesanal evidenciavam ser um espaço que favorecia o trabalho de estabilização<br />

através dessa criação.<br />

“Então a oficina também faz parte desse suporte, mas também por essa literalidade de você<br />

... lá no fim tem uma coisa que foi feita. E que vão coisas até mais elaboradas, como eu<br />

acho que isso é [aponta trabalhos de argila], pelo menos alguns, até coisas mais simples<br />

como a oficina de bijouterias, né? E então eu acho que isso, assim, pra alguns pacientes tem<br />

um efeito muito interessante. Que esse efeito interessante tem a ver com essa literalidade<br />

dessa produção também não duvido, que ele tem a literalidade, no sentido de literalidade<br />

assim, é uma coisa […]. Não é igual você fazer ... sentar pra fazer uma discussão de grupo<br />

com eles, entendeu. O efeito não é o mesmo. (Relato de oficineiro)” (GUERRA, 2000, p.<br />

221-222).<br />

“A gente pensou que teria uma materialidade diferente mesmo a palavra escrita, uma<br />

densidade simbólica. A gente chamou assim de uma certa densidade simbólica<br />

diferenciada (Relato de oficineiro)” (GUERRA, 2000, p. 221).<br />

“O que se disponibiliza basicamente para ele [paciente] é… uma… vamos dizer assim, uma<br />

substancialidade diferente.[…] Faz sentido principalmente pro psicótico essa oferta dessa<br />

possibilidade de uma substância de trabalho […] Porque a palavra escrita, ela tem uma<br />

substância diferente da palavra falada e… Eu acho que nem faz muita diferença da palavra<br />

escrita e com aqueles tipos de objeto que eles constroem muitas vezes […] Mas eles se<br />

incluem num outro tipo de registro pra esse sujeito. […] Eu acredito que isso possa ser um<br />

recurso é… precioso de trabalho com a psicose, esses recursos materiais assim, né?”<br />

(Relato de oficineiro) (GUERRA, 2000, p. 221).<br />

Literalidade, substancialidade, materialidade... Nas conclusões das pesquisas do<br />

mestrado (GUERRA, 2000), consideramos que a materialidade do produto provocava,<br />

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