09.05.2013 Views

10 Anos da Revista EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado ...

10 Anos da Revista EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado ...

10 Anos da Revista EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Um juiz, fosse ele agnóstico, ou, mais ao extremo, fosse ele<br />

ateu, jamais admitiria tal mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> prova. Por outro vértice,<br />

um julga<strong>do</strong>r que fosse a<strong>de</strong>pto <strong>da</strong> crença espírita aceitaria como váli<strong>da</strong><br />

a psicografia ao argumento <strong>de</strong> que ela não é, expressamente,<br />

proibi<strong>da</strong> pela lei processual e que vem ao encontro <strong>de</strong> sua crença<br />

religiosa.<br />

Restaria a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> exame caligráfico <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento,<br />

regula<strong>do</strong> minuciosamente no art. 174 <strong>do</strong> CPP, que versa a respeito<br />

<strong>do</strong> reconhecimento <strong>de</strong> escritos, por comparação <strong>de</strong> letra.<br />

Mas que letra? Do médium? Do espírito?<br />

Seria uma forma técnica pela qual se po<strong>de</strong>ria chegar a uma<br />

conclusão <strong>de</strong>finitiva?<br />

Não creio.<br />

Penso que, ain<strong>da</strong> assim, tal mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> exame grafotécnico<br />

não <strong>da</strong>ria suficiente respal<strong>do</strong> para a aceitação <strong>da</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

psicografia, pois não seria possível, caso assim <strong>de</strong>sejasse uma <strong>da</strong>s<br />

partes (ou o <strong>de</strong>terminasse o próprio juiz), submeter-se ao crivo <strong>do</strong><br />

contraditório o espírito <strong>de</strong>sencarna<strong>do</strong>, para que confirmasse o lau<strong>do</strong><br />

(se positivo a respeito <strong>da</strong> autoria <strong>do</strong> escrito) ou viesse a contestá-lo<br />

(se negativo em relação ao valor <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento).<br />

Tal direito não po<strong>de</strong>ria ser sonega<strong>do</strong> à parte acusa<strong>do</strong>ra, caso<br />

<strong>de</strong>sejasse, por tratar-se <strong>de</strong> direito individual assegura<strong>do</strong> pela Constituição<br />

Fe<strong>de</strong>ral aos litigantes em qualquer processo judicial (art. 5º,<br />

LV). Referi-me, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> especial, ao Ministério Público ou ao querelante,<br />

pois tanto quanto me foi <strong>da</strong><strong>do</strong> observar, a psicografia somente<br />

tem si<strong>do</strong> utiliza<strong>da</strong> em favor <strong>do</strong>s réus. É certo que, na espécie,<br />

restaria a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sabatinar, sob o crivo <strong>do</strong> contraditório, o<br />

médium. Porém, ele não seria o autor intelectual <strong>do</strong> escrito, mas<br />

mero copista <strong>da</strong>quilo que o espírito lhe teria dita<strong>do</strong>.<br />

O <strong>do</strong>cumento, por si só, <strong>da</strong><strong>da</strong> a peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> prova, não<br />

po<strong>de</strong>ria merecer aceitação, sem que se completasse através <strong>da</strong> prova<br />

oral. Mas como fazê-lo?<br />

Bonnier 4 , examinan<strong>do</strong> o valor emana<strong>do</strong> <strong>da</strong> prova obti<strong>da</strong> por<br />

meio <strong>de</strong> invocação ao sobrenatural, lança, sem meias palavras,<br />

4 BONNIER, E<strong>do</strong>uard. “Procedure Civile”, Paris, 1847, Joubert.<br />

140 <strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>EMERJ</strong>, v. 11, nº 41, 2008

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!