10 Anos da Revista EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado ...
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A Constituição, ain<strong>da</strong> que estática no texto, é dinâmica no conteú<strong>do</strong>,<br />
48 estan<strong>do</strong> o seu evolver <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma interpretação<br />
prospectiva, vale dizer, <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> contemporânea<br />
à sua aplicação. Fosse prestigia<strong>do</strong> o seu senti<strong>do</strong> originário,<br />
ignoran<strong>do</strong>-se to<strong>do</strong> o processo evolutivo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, o <strong>de</strong>ver ser se<br />
distanciaria <strong>de</strong> tal mo<strong>do</strong> <strong>do</strong> ser que terminaria por transmu<strong>da</strong>r-se em<br />
algo impossível <strong>de</strong> ser. Tal ocorren<strong>do</strong>, a Constituição não mais po<strong>de</strong>ria<br />
subsistir, acarretan<strong>do</strong> a ruptura <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m constitucional, efeito<br />
inevitável na medi<strong>da</strong> em que as alterações na vi<strong>da</strong> social são mais<br />
céleres que as alterações promovi<strong>da</strong>s nas disposições constitucionais.<br />
Observa<strong>do</strong> o balizamento fixa<strong>do</strong> pelo texto constitucional, é<br />
ampla a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> intérprete na sua constante releitura, permitin<strong>do</strong><br />
que, sem acréscimos, modificações ou supressões, seja a Constituição<br />
continuamente atualiza<strong>da</strong>.<br />
Wróblewski 49 atribuiu a essa concepção o <strong>de</strong>signativo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia<br />
dinâmica <strong>de</strong> interpretação jurídica, contrapon<strong>do</strong>-a à i<strong>de</strong>ologia<br />
estática <strong>de</strong> interpretação jurídica. A primeira <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a a<strong>da</strong>ptação<br />
<strong>do</strong> direito às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social, <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-o <strong>do</strong><br />
legisla<strong>do</strong>r histórico; a segun<strong>da</strong>, por sua vez, prestigia os valores básicos<br />
<strong>de</strong> certeza e estabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, vinculan<strong>do</strong> a norma à vonta<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
legisla<strong>do</strong>r histórico e não admitin<strong>do</strong> seja ela atualiza<strong>da</strong> pelo intérprete.<br />
50 Enquanto a i<strong>de</strong>ologia dinâmica visualiza matizes <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
e criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> na interpretação, melhor se a<strong>da</strong>ptan<strong>do</strong> às vi-<br />
48 A Constituição, como sistema normativo aberto e dinâmico, apresenta "uma estrutura dialógica (Caliess), traduzi<strong>da</strong><br />
na disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e 'capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem' <strong>da</strong>s normas constitucionais para captarem a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e estarem abertas às concepções cambiantes <strong>da</strong> 'ver<strong>da</strong><strong>de</strong>' e <strong>da</strong> 'justiça'" (Gomes Canotilho, Direito<br />
Constitucional e Teoria <strong>da</strong> Constituição, 7ª ed., Coimbra: Almedina, 2003, p. 1145).<br />
49 Constitución y teoría..., 2001, p. 72/75.<br />
50 É célebre a teoria <strong>de</strong> Savigny, ao afirmar que interpretar significa "transportar-se ao ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r,<br />
reproduzir artificialmente suas operações e recompor a lei pelo pensamento" (Traité <strong>de</strong> Droit Romain, Tome<br />
Premier, trad. <strong>de</strong> M. CH. Guenoux, Paris: Firmin Di<strong>do</strong>t Frères, Libraires, Imprimeurs <strong>de</strong> L´Institut <strong>de</strong> France, 1840, p.<br />
207). O reconhecimento <strong>de</strong> que o processo <strong>de</strong> concretização <strong>da</strong> norma é essencialmente criativo, reflexo inevitável<br />
<strong>de</strong> um sistema aberto, po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o "gran<strong>de</strong> triunfo <strong>da</strong> hermenêutica" (Gomes Canotilho, Constituição<br />
Dirigente e Vinculação <strong>do</strong> Legisla<strong>do</strong>r, 2ª ed., Coimbra: Almedina, 2001, p. 62 e 184). Como afirmou Radbruch,<br />
"a lei po<strong>de</strong> ser muito mais inteligente <strong>do</strong> que os seus cria<strong>do</strong>res" (Filosofia <strong>do</strong> Direito, trad. <strong>de</strong> Marlene Holzhausen,<br />
São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 164). Apesar <strong>da</strong> evolução <strong>do</strong> constitucionalismo contemporâneo, francamente<br />
partidário <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ologia dinâmica, merece lembrança que o direito alemão vivenciou uma vaga <strong>de</strong> refluxo com a<br />
ascensão <strong>do</strong> Nacional-Socialismo e a prevalência <strong>do</strong> Führerprinzip (princípio <strong>de</strong> organização política que atribuía<br />
às or<strong>de</strong>ns <strong>do</strong> Führer força <strong>de</strong> lei), conferin<strong>do</strong> uma feição personalista à interpretação.<br />
196 <strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>EMERJ</strong>, v. 11, nº 41, 2008