17.04.2013 Views

Os Pré-socraticos - Coleção Os Pensadores(pdf)(rev) - Charlezine

Os Pré-socraticos - Coleção Os Pensadores(pdf)(rev) - Charlezine

Os Pré-socraticos - Coleção Os Pensadores(pdf)(rev) - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A racionalização do divino conduz a uma religiosidade "exterior", que<br />

mais convém ao público a que se dirigem as epopéias: à polis aristocrática. Essa<br />

religiosidade "apolínea" permanecerá como uma das linhas fundamentais da<br />

religião grega: a de sentido político, que servirá para justificar as tradições e<br />

instituições da cidade-Estado.<br />

<strong>Os</strong> deuses homéricos são fundamentalmente deuses da luz (de díos<br />

provém tanto "deus" quanto "dia") e seu antropomorfismo não diz respeito<br />

apenas à forma exterior, semelhante à dos mortais: os deuses são também<br />

animados por sentimentos e paixões humanas. A humanização do divino<br />

aproxima-o da compreensão dos homens, mas, por outro lado, deixa o universo<br />

— em cujo desenvolvimento os deuses podem intervir — suspenso a<br />

comportamentos passionais e a arbítrios capazes de alterar seu curso normal.<br />

Isso limita o índice de racionalização contido nas epopéias homéricas: uma<br />

formulação teórica, filosófica ou científica exigirá, mais tarde, o pressuposto de<br />

uma legalidade universal, exercida impessoal e logicamente. Então, abolindo-se<br />

a atuação de vontades divinas divergentes, chegar-se-á a um divino neutro<br />

imparcial: a divina arché das cosmogonias dos primeiros filósofos. É bem<br />

verdade, porém, que já na visão mitológica expressa pelas epopéias, a suserania<br />

de Zeus introduz na família divina um princípio de ordem, que tende a unificar e<br />

a neutralizar as preferências discordantes dos vários deuses. Do ponto de vista<br />

ético, essa suserania estabelece uma diferença marcante entre a Ilíada (obra mais<br />

antiga) e a Odisséia: nesta, a fidelidade de Penélope e os esforços de Ulisses<br />

acabam premiados, a <strong>rev</strong>elar, como pressuposto, um universo de valores morais<br />

já hierarquizados, sob o controle e a garantia, em última instância, de Zeus<br />

soberano. Desse modo, à imagem da sociedade patriarcal, Zeus fundamenta na<br />

força sua preeminência e organiza finalmente o Olimpo como pai poderoso. O<br />

politeísmo homérico não exclui, portanto, a idéia de uma ação ordenada por<br />

parte dos deuses, chegando afinal a admitir certa unidade na ação divina.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!