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Os Pré-socraticos - Coleção Os Pensadores(pdf)(rev) - Charlezine

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cavalheirescas: as "aristéias" dos grandes heróis épicos. Séculos mais tarde, o<br />

pensamento ético e pedagógico de Platão e de Aristóteles estará fundamentado,<br />

em grande parte, na ética aristocrática dessa Grécia arcaica expressa nas<br />

epopéias homéricas. Só que — sinal de outros tempos — naqueles pensadores a<br />

aristocracia de sangue será substituída pela "aristocracia de espírito", baseada no<br />

cultivo da investigação científica e filosófica.<br />

Homero parece participar da crença, comum a várias culturas primitivas,<br />

de que o homem vivo abriga em si um "duplo", um outro eu. A existência desse<br />

"duplo" seria atestada pelos sonhos, quando o outro eu parece sair e realizar<br />

peripécias, inclusive envolvendo outros "duplos". A essa concepção de uma<br />

dupla existência do homem — como corporeidade perceptível e como imagem a<br />

se manifestar nos sonhos — está ligada a interpretação homérica da morte e da<br />

alma (psyché). A morte não representaria um nada para o homem: a psyché ou<br />

"duplo" desprender-se-ia pela boca ou pela ferida do agonizante, descendo às<br />

sombras subterrâneas do Erebo. Desligada definitivamente do corpo (que se<br />

decompõe), a psyché passa então a integrar o sombrio cortejo de seres que<br />

povoam o reino de Hades. Permanece como uma imagem ou "ídolo", semelhante<br />

na aparência ou corpo em que esteve abrigada; mas carece de consciência<br />

própria, pois nem sequer conserva as "faculdades" espirituais (inteligência,<br />

sensibilidade etc.). Impotentes, as sombras vagantes do Hades não interferem na<br />

vida dos homens; assim, não há por que lhes render culto ou buscar seus favores.<br />

Humanizando os deuses e afastando o temor dos mortos, as epopéias<br />

homéricas desc<strong>rev</strong>em um mundo luminoso no qual os valores da vida presente<br />

são exaltados. Se isso corresponde aos ideais aristocráticos da época, representa<br />

também o avanço de um processo de racionalização e laicização da cultura, que<br />

conduzirá à visão filosófica e científica de um universo governado pela razão:<br />

séculos mais tarde, o filósofo Heráclito de Éfeso fará de Zeus um dos nomes do<br />

Logos, a razão universal.

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