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Os Pré-socraticos - Coleção Os Pensadores(pdf)(rev) - Charlezine

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Em dois poemas, Empédocles expôs seu pensamento: em Sobre a<br />

Natureza e nas Purificações. O primeiro apresenta uma visão do processo<br />

cosmogônico que constitui um desenvolvimento e uma modificação da linha de<br />

investigação iniciada pelos milesianos; o segundo é um poema religioso,<br />

contendo uma das primeiras exposições da doutrina órfico-pitagórica.<br />

O poema Sobre a Natureza exprime uma nova concepção de verdade e de<br />

razão. O eleatismo havia identificado a via da verdade com o uso exclusivo da<br />

razão, que, apresentada como deusa soberana e absoluta no poema de<br />

Parmênides, afirmava a unidade do ser, e, conseqüentemente, negava a<br />

legitimidade racional da multiplicidade e do movimento.<br />

Empédocles altera essa concepção de verdade, declarando em seu poema<br />

que pretende apresentar "apenas o que pode alcançar a compreensão de um<br />

mortal". Para ele, a aletheia não é mais a <strong>rev</strong>elação de uma verdade absoluta,<br />

porém uma verdade proporcional à "medida humana". Isso significa que a<br />

evidência procurada não é a do intelecto puro: é a exigência de clareza racional,<br />

porém aplicada aos dados fornecidos pelos sentidos. Desaparece a monarquia da<br />

razão, o conhecimento se democratiza: todos os recursos de apreensão da<br />

realidade são igualmente legítimos e devem ter sua parte na constituição da<br />

verdade. Aconselha Empédocles: "Examina de todos os modos possíveis de que<br />

maneira cada coisa se torna evidente. Não atribua mais crença a tua vista do que<br />

a teu ouvido, a teu ouvido que ressoa mais do que às claras indicações de tua<br />

língua. Não recuses a teus outros membros a tua confiança, na medida em que<br />

eles apresentam ainda um meio de conhecer; mas toma conhecimento de cada<br />

coisa da maneira que a torna clara". Resultado dessa democratização do<br />

processo gnosiológico é também a natureza do logos de Empédocles: não mais o<br />

solitário e pessimista discurso heraclítico, mas discurso dirigido a um ouvinte, a<br />

uma outra consciência: "Escuta, pois, Pausânias..." — assim começa o poema<br />

Sobre a Natureza. Abre-se o caminho para o socrático diálogo, filho posterior da<br />

democracia.

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