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Baixar - Acervo Paulo Freire - Instituto Paulo Freire

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36 PAULO ROBERTO PADILHA<br />

depois verde musgo, depois branca novamente, ano 1977, que ficou<br />

comigo por 19 anos. 8<br />

No final da década de 1980 eu já me sentia cansado de tentar a<br />

vida musical sem sucesso e sem dinheiro. Foi quando comecei a cursar<br />

Pedagogia.<br />

A experiência como contador, palhaço, músico, professor de violão,<br />

ator e estudante de pedagogia, além das leituras que realizava, já<br />

citadas, permitiram-me perceber como era importante juntar diferentes<br />

conhecimentos e saberes para fazer educação. Tive a oportunidade<br />

de, na minha prática pedagógica, experimentar e ir percebendo<br />

que limitava a atuação do professor utilizar, em sala de aula, apenas<br />

a linguagem científica e transmitir aos alunos os poucos conhecimentos<br />

que aprendíamos nos livros. Alguma coisa faltava para promover,<br />

com mais sentido, curiosidade e alegria, a aprendizagem em<br />

sala de aula e na escola, minha e a dos meus alunos. E isso eu sentia<br />

desde as minhas primeiras experiências como professor de música,<br />

na educação não formal, e depois como “professor eventual” (vejam<br />

só o nome... eventual!) de escola pública estadual, “dando aulas”<br />

de contabilidade numa unidade de ensino, e de educação artística,<br />

em outra.<br />

8. Lembro-me de muitas situações inusitadas nessa época, desde a proibição de subir pelo<br />

elevador social dos prédios mais luxuosos, até à realização de show de animações em quintais<br />

com galinhas, patos e cães circulando entre nós durante a festa... ou, então, a utilização como<br />

camarim de um quarto com quatro beliches, guarda-roupas, caixotes e roupas espalhados por<br />

todos os cantos. Uma outra situação marcante ocorreu depois de um belo show no salão de<br />

festas de um prédio de classe média alta e para um grupo de pessoas “muito refinado”. Por<br />

duas horas, como sempre fazíamos, recebíamos as crianças, brincávamos, maquiávamos com<br />

figuras infantis ou com desenhos que nos pediam, éramos palhaços, animadores de atividades<br />

pedagógicas com as crianças e com os adultos, integrando-os e criando uma atmosfera de plena<br />

integração entre todas as idades, vestíamos aquelas enormes fantasias de pelúcia encarnando<br />

sapos, leões, coelhos, pantera cor-de-rosa, gatinho e outros bichos, além de incluir os adultos<br />

nas brincadeiras. Mas, no final da festa, um senhor muito bem vestido, forte e alto, aproximouse<br />

de mim para um breve diálogo. Eu imaginei que viria me cumprimentar pelo “excelente<br />

trabalho” quando, para minha surpresa, ele disse: “É... veja só... cada ‘coisa’ que as pessoas<br />

fazem na vida para ganhar dinheiro!” E soltou uma gargalhada aberta e, para mim, ofensiva.<br />

Fiquei meio sem entender e um tanto perplexo com a falta de sensibilidade e de respeito com o<br />

nosso trabalho, que era feito com amor, com carinho, com uma preocupação pedagógica e,<br />

principalmente, com o desejo de acolher e integrar todas as pessoas presentes à festa, num<br />

clima de confraternização e também de aprendizagens recíprocas. Realmente, ele não entendeu<br />

nada da nossa proposta.

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